Conhecida por obras que transitam entre vídeo, escultura e instalação, Henrot apresenta esculturas inspiradas em ábacos, brinquedos infantis e gráficos distorcidos, sugerindo um universo onde pedagogia e desorientação caminham lado a lado.
Com a exposição A Number of Things, a artista francesa Camille Henrot transforma a galeria em um território onde o impulso humano por ordem e classificação é exposto com humor, crítica e lirismo. Conhecida por obras que transitam entre vídeo, escultura e instalação, Henrot apresenta esculturas inspiradas em ábacos, brinquedos infantis e gráficos distorcidos, sugerindo um universo onde pedagogia e desorientação caminham lado a lado. As peças evocam formas conhecidas, mas se recusam a oferecer respostas simples, elas questionam a própria lógica de organizar o mundo, mesclando funcionalidade primitiva e poesia formal.
As curvas biomórficas e os acabamentos em bronze opalescente reforçam a sensação de que esses objetos, embora inanimados, carregam um tipo sutil de vitalidade. A mostra também inclui obras da série Dos and Don’ts, iniciada em 2021, em que a artista mistura colagem, impressão e pintura sobre páginas de livros de etiqueta. A partir desses materiais, Henrot constroi um comentário visual sobre os códigos sociais que regem o comportamento cotidiano. Nas telas, fragmentos de exames, tarefas escolares, mensagens de erro e listas de afazeres ganham nova vida em composições vibrantes e provocativas. Ao reorganizar esses resíduos do cotidiano, a artista revela o caráter construído, e muitas vezes contraditório, das normas de conduta. A série articula um ponto central de sua prática: a tensão entre a necessidade de estrutura e o caos inevitável da experiência subjetiva.
Para além das obras expostas, A Number of Things propõe uma ativação do espaço sensorial, com uma intervenção no piso da galeria assinada pelo estúdio Charlap Hyman & Herrero. O chão, redesenhado, convida o visitante a se mover de maneira mais consciente, reforçando o aspecto imersivo da exposição. A escolha de Henrot por elementos associados à infância e à didática não é aleatória: ao colocar em cena dispositivos que ensinam a contar, seguir regras ou distinguir formas, ela oferece uma reflexão visual sobre os mecanismos que moldam o comportamento desde cedo. Em vez de oferecer respostas, a artista nos lembra que todo sistema é, em última instância, uma construção provisória.