Casa de Criadores n56: Ale Brito

A nova coleção apresentada na Casa de Criadores revela um olhar mais maduro e sofisticado, fruto de anos de dedicação à técnica e à construção de linguagem.

Moda // Other Side
por Caíque Nucci
Julho, 2025

Ale Brito retorna à Casa de Criadores com uma coleção que marca não apenas sua presença na passarela, mas um novo momento em sua trajetória como designer brasileiro. Formado pela Central Saint Martins, em Londres, Ale é um dos poucos nomes nacionais a ter passado pelo ateliê de Alexander McQueen, onde estagiou e, depois, atuou como estilista. Essas experiências foram determinantes para o aprofundamento técnico de seu olhar, trazendo uma nova compreensão sobre construção de peças, corte, modelagem e linguagem visual.

A formação no circuito londrino potencializou ainda mais a assinatura que Ale já desenvolvia no Brasil desde os primeiros anos. Lançado pela Casa de Criadores, o estilista sempre transbordou uma estética híbrida entre a alfaiataria e a linguagem urbana, sendo reconhecido por tensionar o sexy, reconstruir volumes e experimentar com peças de apelo imediato e estrutura refinada. Suas coleções circularam por editoriais das principais revistas de moda do país, incluindo Elle, Vogue, L’Officiel, Marie Claire, FFW MAG e i-D Magazine, além de vestir personalidades como Carol Trentini, Rita Lee e Anitta.

A nova coleção apresentada na Casa de Criadores revela um olhar mais maduro e sofisticado, fruto de anos de dedicação à técnica e à construção de linguagem. A parceria com o Studio 115 potencializa esse momento, trazendo para a passarela peças desenvolvidas com precisão de alfaiataria e um repertório imagético que parte de referências da era vitoriana britânica, como os corsets estruturados, as crinolinas metálicas e as mangas bufantes, reinterpretadas de maneira livre, contemporânea e funcional. Os vestidos longos e fluidos não buscam reforçar estereótipos, mas sim sugerir uma liberdade de movimento e um respeito às formas do corpo no presente. Casacos estruturados, calças de cintura alta e camisas com recortes geométricos apontam para a força de uma estética autoral construída sobre bases sólidas.

A proposta criativa parte de vontades e imagens recorrentes no inconsciente do estilista. Em vez de seguir um tema fechado, Ale utiliza a passarela como campo de experimentação. A coleção testa cortes, explora proporções e revisita o guarda-roupa masculino clássico(terno, camisa e calça) por meio de uma abordagem que valoriza o caimento e a mobilidade das peças. O resultado é um equilíbrio entre estrutura e fluidez, tradição e transgressão, onde a alfaiataria se mostra não como formalidade, mas como linguagem viva.

Ale Brito também acumula experiências no mercado comercial. Atuou por anos na equipe de estilo da Ellus, coordenando coleções para varejo, atacado, importado e e-commerce. Assinou colaborações com C&A, Chili Beans e Riachuelo, e mais recentemente esteve à frente da direção de estilo da Shop Ginger, marca de Marina Ruy Barbosa. Entre seus trabalhos, desenvolveu ainda figurinos e editoriais com marcas e artistas em projetos de branding, styling e consultoria criativa.

Seu retorno à passarela neste momento é marcado por uma intenção clara: reconectar-se com a moda como linguagem, como experimento e como proposição. Em vez de seguir tendências, Ale propõe possibilidades. Sua coleção não busca agradar de forma imediata, mas provocar, testar proporções, desafiar o conforto visual e revelar sua capacidade técnica em cortes, acabamentos e construção.

Ao lado do Studio 115, também reforça um posicionamento político e social. A parceria destaca a importância da valorização da mão de obra nacional, dos ateliês independentes e das costureiras, modelistas e artesãos brasileiros. O trabalho apresentado por Ale Brito é uma tomada de posição. Um manifesto sutil, mas preciso, sobre o que significa fazer moda no Brasil hoje com ética, sofisticação e coragem.

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