Quatro propostas que evidenciam diferentes caminhos da criação contemporânea.
A Casa de Criadores N57 abriu sua programação no Centro Cultural São Paulo com um conjunto de apresentações que revela a multiplicidade de pesquisas em andamento na moda brasileira. As quatro marcas que marcaram o início da semana demonstram como a criação contemporânea se articula por meio da performance, da formação, da reconstrução têxtil e de práticas autorais independentes.
Le Benites inaugurou a edição com uma apresentação coreografada pela Cisne Negro Cia. de Dança que retoma a relação do estilista com o balé. A performance serviu como ponto de partida para a leitura da coleção, que explora uma estética esportiva combinada à fisicalidade do movimento. Regatas cavadas, macacões ajustados, shorts de elástico e camisetas com figuras musculares compõem a série, enquanto o já reconhecido trabalho de upcycling segue como destaque. Nesta temporada, materiais da indústria de lingerie foram incorporados em vestidos de malha canelada, tops e composições que reforçam a identidade sensual da marca.
A coleção Nude Total, desenvolvida por estudantes do Bacharelado em Design de Moda do Senac São Paulo, propõe uma reflexão sobre a multiplicidade de peles brasileiras. Os 28 looks apresentados investigam tons, texturas e estruturas por meio de um repertório que amplia a noção tradicional de nude. O projeto contou com orientação de docentes do Senac, consultoria criativa de João Pimenta e apoio do movimento Sou de Algodão na captação de tecidos. A apresentação evidencia o papel da instituição na formação de novos criadores e no fortalecimento de percursos profissionais que unem técnica, pesquisa e responsabilidade social.
O Marlo Studio apresentou a coleção Intimate Dive, fruto de um processo colaborativo com o Senac Moda. A proposta investiga o upcycling como ferramenta estética e metodológica, com manipulações têxteis que tensionam superfícies e volumes. Sob direção criativa de Márcio Lopes, a coleção marca um momento de transição para a marca e aponta para novas possibilidades de construção dentro da Casa de Criadores, sobretudo no diálogo entre sustentabilidade e linguagem visual.
Em sua primeira participação na CdC, Creations Lil apresentou a coleção Undergrounders, que valoriza a produção independente feita à margem por meio de upcycling radical e artesania manual. O trabalho do estilista Marcelo Mariani traz peças construídas a partir de reciclagens extremas e costuras visíveis, criando uma estética que combina urgência, identidade e experimentação. A estreia reforça a capacidade do evento de revelar novas vozes e de ampliar o repertório de narrativas dentro da moda autoral.
Juntas, as quatro apresentações formam um recorte claro do momento: a criação brasileira segue diversa, inquieta e em constante renovação. A CdC57 apenas confirma isso.
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