Lançado pela Autêntica, o título não é apenas um apanhado de ensaios: é um mosaico de vozes que, vindas de lugares diferentes, se encontram para pensar o país a partir de três eixos urgentes e entrelaçados: o climático, o digital-tecnológico e o biológico.
Há livros que se apresentam como diagnósticos, outros como manuais, e alguns como exercícios de imaginação crítica. Inquietações de um Brasil contemporâneo pertence a essa última espécie. Lançado pela Autêntica, o título não é apenas um apanhado de ensaios: é um mosaico de vozes que, vindas de lugares diferentes, se encontram para pensar o país a partir de três eixos urgentes e entrelaçados: o climático, o digital-tecnológico e o biológico.
A premissa é clara e provocadora: imaginar o futuro do Brasil exige abandonar o conforto de futurologias prontas e enfrentar a pergunta mais incômoda de todas, qual futuro é possível quando o futuro já não se parece com nada do que conhecemos até então? O livro traz cinco autores, todos Fellows do Instituto Arapyaú, que assinam coletivamente, entre eles, destaca-se Samela Sateré Mawé, ativista indígena que empresta ao projeto uma camada de visão rara: aquela que não se limita apenas ao campo técnico, Samela é formada em biologia pela Universidade do Estado do Amazonas, mas que incorpora sua ancestralidade, memória dos povos originários e a urgência de reposicionar o Brasil não como país periférico, mas como guardião de conhecimentos vitais para o planeta.
O primeiro capítulo aborda a agenda ambiental-climática, destacando o potencial do Brasil como líder global, mas alertando para a necessidade de coragem política para transformar a vantagem ecológica em protagonismo efetivo, enfrentando contradições internas. No segundo, o foco recai sobre a modernização do Estado, vista como um desafio técnico e ético, assim como a necessidade de reconstrução de uma governança para responder às demandas domésticas de desigualdade e degradação ambiental e, ao mesmo tempo, atuar na geopolítica climática internacional. O terceiro capítulo discute o agronegócio de forma crítica, apontando que há espaço para integrar produção de alimentos e preservação ambiental, mas que essa convergência exige mudanças estruturais, e não apenas ajustes pontuais. O quarto apresenta as Soluções Baseadas na Natureza, defendendo que o conhecimento ancestral dos povos originários e a necessidade de compreensão e incorporação dos mesmos como estratégia para transição a uma economia regenerativa. A contribuição da ativista indígena Samela Sateré Mawé é central nesse ponto, ressaltando que sustentabilidade não pode ser tratada como apêndice econômico, mas como eixo estruturante do desenvolvimento.
No capítulo final, a proposta vai além da restauração ambiental, defendendo também a renovação de valores e imaginários, substituindo modelos de exploração infinita por lógicas de interdependência e continuidade. Inquietações de um Brasil contemporâneo não entrega respostas fechadas, e talvez seja justamente essa a sua função.
Ao reunir olhares que vão da macroeconomia à cosmovisão indígena, o livro mostra que pensar o Brasil exige polifonia, negociação e abertura ao desconforto. Para o design, de produtos, de políticas, de narrativas, essa obra nos ajuda pensar novas formas de projetar futuros, a começar pelo o que decidimos preservar.
INQUIETAÇÕES DE UM BRASIL CONTEMPORÂNEO
Autoria: Francisco Gaetani, Izabella Teixeira, Marcello Brito, Roberto S. Waack, Samela Sateré Mawé
Editora Autêntica
176 Páginas
R$74,90