Criada em março de 2023, a Ethica – Sustainable Fashion Hub é uma plataforma digital que ambiciona ser um dos pilares da transformação da moda, inovando-a uma palavra de cada vez.
Bem-vindos à Ethica – Sustainable Fashion Hub, uma inovadora plataforma digital que está redefinindo os padrões da indústria da moda em Portugal desde sua criação em março de 2023.
Fundada por Mariana Silva, com o objetivo claro de ser um farol de mudança e progresso; e com compromisso de promover a transparência em todos os estágios da cadeia de produção, venda e descarte de peças de vestuário, enquanto educa e informa tanto os consumidores quanto os profissionais da indústria, o Hub entende que sua missão está o reconhecimento da comunicação como uma força vital para a sustentabilidade da indústria têxtil da moda.
Na Ethica, os colaboradores desmistificam os conceitos frequentemente obscuros deste setor, simplificando informações que muitas vezes são ocultadas pelas marcas.
"Nossa meta é capacitar os consumidores com o conhecimento necessário para fazer escolhas conscientes e responsáveis em relação à moda, ao mesmo tempo em que capacitamos as marcas com as habilidades de comunicação essenciais para destacar suas práticas sustentáveis", diz Mariana.
Mariana Silva é jornalista, Mestre em Branding e Design de Moda, assistente de investigação de sustentabilidade na Católica Lisbon School of Business & Economics, e sua paixão pela indústria da moda remonta à criação do seu primeiro blog independente, M’s Journal, onde teve a oportunidade de trabalhar com diversas marcas do setor, portuguesas e internacionais.
O seu primeiro contato com a sustentabilidade deu-se em 2020, quando regressou após seis meses imersa em um programa de intercâmbio estudantil. Confrontada com o gigante armário de roupa que a esperava em casa, Mariana decidiu organizar um mercado de roupa em segunda mão na sua terra natal, Leiria (Portugal), e vendeu uma grande parte das suas peças. Nesse ano, iniciou uma jornada de educação relativa à sustentabilidade da indústria da moda e, desde então, nunca mais parou.
Conversamos com Mariana para entender os principais movimentos do hub e suas perspectivas de futuro. Confira na entrevista abaixo:
Qual foi o motivo inicial para a criação do Hub? O que te levou a querer desenvolver algo que relacionasse sustentabilidade e moda?
Quando terminei a minha dissertação de mestrado, em meados de 2022, senti que tinha um manancial de informação relevante em mãos e queria partilhá-la com o maior número de pessoas possível. Estudei estratégias de comunicação de moda sustentável, nomeadamente aquilo que mais tarde viria a ser conhecido, na União Europeia, como o Passaporte Digital de Produto, e apercebi-me do poder da informação e da comunicação na tomada de decisões mais conscientes e, consequentemente, mais sustentáveis. Ao desenvolver a Ethica – Sustainable Fashion Hub, não queria criar uma plataforma que dissesse aos cidadãos o que escolher; o nosso objetivo é, ao invés disso, oferecer os dados necessários a que cada pessoa consiga fazer a melhor escolha possível dentro das suas possibilidades, preferências e estilo de vida. A educação é uma das armas mais importantes na promoção de uma sociedade mais sustentável e, na moda, essa mudança é urgente. A Ethica está sediada em Portugal, um país que começa a ficar conhecido como um oásis da produção têxtil sustentável – mas a realidade não é assim tão simples. Mesmo em Portugal, onde existem várias regras de proteção ambiental e social, há muito espaço para melhorar, seja no aumento de salários ou na revisão dos volumes de produção. Cidadãos mais informados serão capazes de exigir mudanças reais e eficazes. E a Ethica é apenas uma peça nesta complexa engrenagem de luta por um mundo mais justo do ponto de vista climático e social.
Quais são os principais desafios tecnológicos que a Ethica enfrentou desde sua criação?
Embora não seja um desafio tecnológico per se, é impossível não destacar o problema atual da desinformação, principalmente aquela que é veiculada nas redes sociais. Até a nossa equipa, que trabalha com estes temas há vários anos, tem por vezes dificuldade em distinguir o que é uma informação fiável e o que é uma mera especulação. E a difusão da inteligência artificial não está a facilitar essa realidade. Por exemplo, é comum dizer-se que a indústria da moda é responsável por 10% das emissões de carbono mundiais globais. Este número é citado por entidades importantes, como a União Europeia e a Organização das Nações Unidas, mas ninguém sabe dizer qual é a sua origem ou como foi calculado. No geral, há uma enorme falta de informação em todos os setores da indústria. As marcas não sabem (ou não querem dizer) quanto produzem, como produzem, onde produzem... E isso torna quase impossível a nossa tarefa, que é garantir que os dados que partilhamos são os mais seguros possíveis, baseados em evidência científica verificável e amplamente aceite pela comunidade. Seria de esperar que, por esta altura, esses desafios já estivessem ultrapassados, que já existisse tecnologia para os colmatar, certo? Mas, pelo cenário atual, ainda estamos longe disso.
Quais são os objetivos do Hub para os próximos anos? Qual o impacto que vocês gostariam de atingir?
Para os próximos anos, queremos alargar o tipo de público a que chegamos. Estamos a preparar conteúdos educativos para uma faixa etária mais jovem, que ainda não está presente nas redes sociais – onde comunicamos maioritariamente – de maneira a que a vontade de mudança se instale o mais cedo possível. Também queremos oferecer mais conteúdo informativo às marcas e profissionais de comunicação da indústria da moda, já que estes também são responsáveis por informar os seus consumidores e devem levar essa responsabilidade a sério. Quando escrevi a minha dissertação de mestrado, apercebi-me de que a maioria dos cidadãos que entrevistei contactou, pela primeira vez, com a palavra “sustentabilidade” numa publicidade, e essa é uma realidade que me preocupa pessoalmente. Mas, de forma geral, é possível definir o impacto que queremos atingir numa palavra: empoderamento. Se uma pessoa se sentir mais empoderada na sua escolha de vestuário porque viu uma publicação na nossa plataforma, que a ajudou a perceber que marcas ou formas de consumo vão ao encontro dos seus valores, aí saberemos que a nossa missão está a ser bem-sucedida.