Galeria Custódio: Um espaço onde Arte e Ancestralidade se encontram

No centro de Porto Alegre, no Sul do Brasil, encontrasse um espaço construído por arte, ancestralidade e brasilidade. A Galeria Custódio é um daqueles lugares que "sentimos a energia" assim que colocamos o pé direito. Isso, acredito eu, talvez se dê pela história de criação do local, ou então, por toda bagagem cultural que ele vem acumulando.

Cultura // Movimento
por Caíque Nucci
Abril, 2024

Fundada em 2023 por Anderson Coelho, a Galeria Custódio fica localizada na Rua Riachuelo, 1100, no centro da cidade capital do Rio Grande do Sul. No piso térreo do prédio, já passaram algumas exposições. A primeira, conhecida como "Abre caminho" , trazia como tema central a figura do orixá Bará, Exu, como força principal. Concebida com esse poder ancestral e com a união entre arte e espiritualidade, esse primeiro ato não era apenas uma exposição religiosa, mas sim, uma exposição que pretendia ser o pilar fundamental da construção de um novo espaço de arte.

Nas religiões de matriz africana, o Orixá Exu é quem abre, cuida e fecha todos os caminhos. Segundo Anderson, fundador do local, "Não podemos falar de "Abrir Caminhos" sem a presença dele, o responsável pelo movimento e dono das chaves de todos os caminhos das nossas vidas".

E com os caminhos abertos, o show começou. Até aqui, a galeria já recebeu outras exposições como "Nascer Duas Vezes", individual de João Arthur Lehr Moroni e "A Pureza da Flor", que reuniu um grupo de 13 artistas, incluindo Robinho Santana - artista plástico e grafiteiro natural de Diadema, conhecido por seus grafites espalhados pelos arranha-céus de São Paulo.

Arte: @santoculto | Foto: @afrovulto

Conversamos com Anderson para entender quais os próximos passos, caminhos e encruzilhadas que a Galeria Custódio pretende percorrer. Confira a entrevista abaixo.

Qual foi o motivo inicial para a criação da Galeria? Em que ponto da sua trajetória o espaço começou a ser pensado em sua mente?

A arte em minha vida foi um encontro tardio, apenas aos trinta anos, recordo-me de estar em um espaço de arte. Porém, foi o suficiente para que eu percebesse o poder que a arte tem.
Acredito que pessoas em um geral, subestimam o poder da arte, creem que é algo supérfluo e sem valor, eu creio que se pensarmos assim, nunca teremos o controle da nossa história como povo (principalmente nós pessoas Pretas)  a arte serve para ser um ponto de chegada, um guia do que e como vivemos até aqui,  além de uma poderosa força de autoestima. 

A galeria surgiu nesse lugar, dando espaço e voz,  para as pessoas terem a experiência de viver com arte e artistas mostrarem seus trabalhos.

Foto: Marlon Laurencio

Quando pensamos em representatividade negra no mercado da arte, como você acredita que isso impacta na repercussão e aceitação do espaço no ambiente em que está estruturado?

Hoje está melhor que ontem e esperamos que no futuro esteja melhor que hoje. Mas ainda vivemos em um pais que a dominância da arte é branca e elitista. Porém existem grandes artistas e grandes pessoas pretas assumindo o protagonismo da arte em nosso país. Eu não ligo muito para aceitação na galeria, quero que cada vez mais sejamos vistos como um espaço emancipador de cultura sem depender da validação de pessoas brancas dizendo o que é arte etc. A galeria Custódio nasceu com esse propósito de emancipar esse pensamento de "permissão".

Qual a relação da Galeria com novas tecnologias imersivas? Como você enxerga o futuro do espaço físico com a interação de tecnologias virtuais?

Acredito que a tecnologia irá influenciar e muito o mercado, mas, pensando em obras de pintura, esculturas, técnicas manuais em geral acho difícil perdemos o protagonismo da essência humana. Mas, visitas técnicas guiadas por tour digital creio que é uma realidade que tende a crescer e se profissionalizar cada vez mais entre outras possibilidades de interação.

Foto: Marlon Laurencio

Mas a revolução real seria pessoas pretas criando e fomentando o nosso mercado de arte sem depender de uma "moda" para valorizar nossa cultura. Gosto muito de um trecho de uma música do JAY Z - The Story of O.J  onde ele diz: I bought some artwork for one million
Two years later, that shit worth two million
Few years later, that shit worth eight million

Tradução: Comprei algumas obras de arte por um milhão. Dois anos depois, essa merda valia dois milhões. Poucos anos depois, essa merda valia oito milhões.

E para finalizar, questiona: Por que você acha que os maiores colecionadores de arte do Brasil são bancos ?

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