Project Aura: A solução XR do Google

Em parceria com a XREAL, o Google retoma a arquitetura da visão expandida como quem redesenha um palácio de vidro: discreto, imersivo, quase imperceptível. Longe do fetiche tecnocêntrico do Vision Pro ou da estética industrial das primeiras interfaces vestíveis, o Aura surge como um dispositivo que prefere sugerir do que afirmar.

Inovação // Machine Market
Por Gilles Pedroza Leite
Junho, 2025

Com o anúncio do Project Aura no Google I/O, o futuro dos óculos inteligentes volta a pulsar sob uma nova ótica não mais como uma promessa tímida do passado, mas como um gesto estratégico que funde tecnologia, desejo e invisibilidade. Em parceria com a XREAL, o Google retoma a arquitetura da visão expandida como quem redesenha um palácio de vidro: discreto, imersivo, quase imperceptível. Longe do fetiche tecnocêntrico do Vision Pro ou da estética industrial das primeiras interfaces vestíveis, o Aura surge como um dispositivo que prefere sugerir do que afirmar. Tethered, leve e com vocação óptica translúcida, ele projeta a realidade aumentada não como espetáculo, mas como presença latente de um sussurro digital entre as dobras da percepção.

É significativo que a XREAL, herdeira da Nreal e habituada ao experimentalismo das lentes micro-OLED com ótica birdbath, seja a escolhida para esse movimento. O Project Aura carrega em si o DNA de uma transição: da exuberância especulativa dos primeiros óculos AR para uma linguagem mais contida e pragmática, que ainda assim não abdica da ambição. A integração com a IA Gemini sinaliza uma virada pós-materialista no design de tecnologia: o objeto desaparece, mas continua a agir. Realidade mista, assistentes contextuais, tradução simultânea, visão computacional o Aura não quer substituir o mundo, mas acompanhá-lo, comentá-lo, enriquecê-lo com camadas invisíveis de sentido. É um gesto que lembra o design de Rams: reduzir não como privação, mas como cuidado.

Talvez o verdadeiro projeto do Aura não seja apenas a construção de um gadget, mas a reabilitação de um imaginário. Desde os tempos do malfadado Google Glass, a ideia de óculos inteligentes parecia amaldiçoada por sua ânsia de protagonismo. Agora, o Google opta por uma presença lateral, oferecendo o sistema, delegando o corpo. Como no Wear OS, a aposta recai no ecossistema, nos devs, na colaboração entre hardware e software. Aura, nesse sentido, é mais conceito do que produto. É o design como mediação silenciosa entre o humano e o digital, entre a promessa e o gesto. Um óculos que não apenas mostra, mas escuta. Que não quer ser centro, mas filtro. Que, ao invés de gritar futuro, sussurra presença.

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