Inspirada pelas ideias de cura e resistência frente às transformações globais, a coleção destaca o potencial inovador da moda amazônica no cenário nacional.
A criatividade do povo Piratapuya, do Alto Rio Negro, estará no centro da 55ª edição da Casa de Criadores, marcada para os dias 5 a 10 de dezembro de 2024, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Responsável por abrir o evento, Sioduhi Studio, única marca amazonense presente, promete trazer às passarelas sua nova coleção, Kahtiridá: Fio da Vida. Inspirada pelas ideias de cura e resistência frente às transformações globais, a coleção destaca o potencial inovador da moda amazônica no cenário nacional.
Além da apresentação na Casa de Criadores, a marca também estará em um desfile pocket no encerramento do prêmio “Personalidade Fashion Futures” do Instituto C&A, no dia 3 de dezembro. Logo após, Sioduhi marca presença no Centro Cultural Bienal das Amazônias, em Belém, com uma exposição e outro desfile entre os dias 11 e 15 de dezembro.
Tradição, Inovação e Futurismo Indígena
Kahtiridá: Fio da Vida apresenta novos experimentos, como bordados e algodão emborrachado, além de uma paleta de cores vibrantes. Apesar das inovações, a coleção mantém elementos icônicos da marca, como a fibra de tucum e o tingimento natural com a tecnologia ManioColor, derivada da casca de mandioca. A conexão com as coleções anteriores — Pamɨri 23, ManioQueen e Amõ Numia — reafirma a narrativa consistente da marca.
Sioduhi, fundador e estilista, reflete em seu trabalho uma visão política e comunitária da moda. Depois de um período em São Paulo, ele retornou à Amazônia para fortalecer a cadeia produtiva local e promover a moda indígena e amazônica. Atualmente, é conselheiro do projeto Amazon Poranga Fashion, que fomenta a moda autoral na região Norte.
No MBA em Negócios e Estética da Moda na USP, Sioduhi desenvolveu o conceito de futurismo indígena, que une tradição e inovação em um fluxo contínuo entre passado, presente e futuro. Sua pesquisa e criações dialogam com questões urgentes, como a sustentabilidade e a emergência climática, enquanto celebram a diversidade e a resistência cultural dos povos do Alto Rio Negro.
Horizontes Abertos
Empreender no Amazonas significa lidar com desafios únicos, desde dificuldades logísticas, pela produção descentralizada entre São Gabriel da Cachoeira, Novo Airão e Belém, até a baixa visibilidade nacional e falta de patrocínios. No entanto, Sioduhi transforma esses obstáculos em força criativa, reafirmando o compromisso de descentralizar a moda e demarcar novos territórios existenciais.
Para 2025, os planos incluem fortalecer a estrutura comercial da marca, ampliar a participação em eventos nacionais e internacionais e explorar novas possibilidades no mercado global. As criações de Sioduhi não apenas vestem corpos, mas também carregam histórias, saberes ancestrais e visões futuristas, construindo uma ponte entre o local e o universal, o tradicional e o inovador.
A moda autoral brasileira encontra na Sioduhi Studio uma expressão potente de identidade, resistência e inovação. E, como Kahtiridá: Fio da Vida promete mostrar, o futuro da moda nacional tem raízes profundas na Amazônia.