Em seu retorno ao SPFW, a estilista transforma o Parque Trianon em território de criação e manifesto. A floresta não é cenário: é matéria, memória e tecnologia.
Flavia Aranha constrói moda como quem escuta a terra. Em seu retorno ao SPFW, a estilista transforma o Parque Trianon em território de criação e manifesto. A floresta não é cenário: é matéria, memória e tecnologia. Cada look carrega um gesto de respeito ao tempo natural e uma aposta na inteligência dos ecossistemas para projetar o futuro da moda.

O desfile apresenta mais de trinta criações desenvolvidas com biomateriais e tingimentos naturais. Algas convertidas em tecidos, látex da Amazônia sobre seda, micélio como alternativa ao couro, fibras amazônicas e sementes nativas revelam uma pesquisa material sofisticada, feita a partir de parcerias com comunidades e startups que compartilham a visão de um futuro regenerativo. As cores nascem de urucum, índigo, crajiru, cebola roxa e corantes bacterianos, traduzindo o ciclo da natureza em texturas que respiram.

A marca, certificada como Empresa B desde 2016, carrega uma trajetória de mais de uma década de pesquisa e impacto positivo. Flavia propõe um novo paradigma de luxo: um luxo vivo, que nasce da relação com o ambiente, valoriza cadeias produtivas locais e reinventa sistemas tradicionais a partir da inovação. Ao unir processos ancestrais e tecnologias contemporâneas, sua criação constrói pontes entre o conhecimento dos povos originários, o design autoral e as possibilidades do futuro.
No Trianon, os corpos desfilam como extensões da floresta. A música com sons de abelhas e cantos indígenas reforça a experiência sensorial. Cada peça é um organismo vivo, não um produto isolado. O desfile revela a força de uma moda que não se limita à estética, mas atua como agente ativo de transformação cultural, ecológica e tecnológica.

Fotos: Ze Takahashi/Agência Fotosite