Uma coleção cápsula de peças limitada em co-branded com a influenciadora estão programados para serem revelados em 18 de agosto.
Natural do sul de Santa Catarina, Vitória Faustino começou sua carreira de modelo em 2017, mas apenas em 2020 começou a trabalhar como criadora de conteúdo de moda, trabalhando também como consultora de marcas de alta-costura. O olhar apurado de Vitória para detalhes estéticos em todas as formas, como arte, design de interiores e, especialmente, moda, a impulsionou a alcançar um público fiel nas redes. Vitória vive em São Paulo desde 2021 e fotografa moda entre as paisagens da cidade, apresentando um estilo elegante e minimalista, enraizado em tons neutros e itens vintage.
Ela é conhecida por seu gosto apurado e narrativa visual através da fotografia e do vídeo. Conversamos com Vitória Faustino para entender um pouco mais sobre o processo criativo e suas referências presentes na collab assinada com a Giah Studio, prevista para lançamento no site e instagram da marca no dia 18 de agosto, sua trajetória na moda, sua relação com as tendências e suas inspirações. Acompanhe abaixo a entrevista completa.
1. Com relação a transição da carreira do modelo para a influenciadora, como você vê a importância do conhecimento do backstage da moda, como pertinente para a sua produção de conteúdo?
Sim, sempre fui uma modelo curiosa. Lembro que, enquanto estava na faculdade de fisioterapia, estudava anatomia e, ao mesmo tempo, pesquisava referências de moda. Minha mãe, que é modelista e costureira, também pintava muitos quadros. Portanto, cresci em um ambiente repleto de arte. Ela sempre teve uma abordagem mais abstrata, longe do convencional, o que influenciou meu olhar conceitual.
O que mais me ajudou na criação de conteúdo foi minha experiência tanto diante das câmeras quanto por trás delas. Sempre procurei entender as necessidades do cliente antes de iniciar uma campanha. Como a Gisele Bündchen mencionou em seu livro, ela se via mais como atriz do que como modelo, pois precisava incorporar o personagem exigido pela marca. O mesmo se aplica a mim: a forma como vestimos reflete quem somos.
Quando comecei a trabalhar como influenciadora, isso foi uma grande mudança para mim. Embora eu amasse modelar e estar em estúdio, raramente encontrava uma marca cuja roupa me representasse completamente. Não tínhamos autoridade para escolher o que vestir. Como influenciadora, tive a oportunidade de trazer meu próprio olhar e experiência para as campanhas, ajudando a criar cenários que combinassem com os looks propostos pela marca. Isso me permitiu expressar melhor minha personalidade. Com o tempo, percebi que as marcas estavam aceitando minha verdadeira identidade, independentemente dos trabalhos anteriores como modelo. Elas passaram a reconhecer o que era realmente a Vitória e seu trabalho. Foi quando entendi que havia conquistado a confiança dos clientes e conseguido refletir minha personalidade através das roupas que vestia.
2. Como é construir uma identidade e uma estética mais direcionado para peças que vão durar mais tempo no guarda-roupa e que tem uma relação maior com a sua própria personalidade,numa era de overconsumption, onde todo mundo quer comprar absolutamente tudo da última tendência?
Estava conversando com uma amiga e mencionei que, quando você desenvolve uma personalidade e um estilo tão fortes, às vezes acaba se comparando aos outros e sente que está estagnada. Isso acontece porque essas características se tornam uma parte tão integral de quem você é que parece que está sempre fazendo o mesmo, utilizando sempre mais do mesmo. No entanto, acho que quem está de fora consegue perceber nuances que nós mesmas não notamos mais. Por isso, ressaltei a importância de receber feedback das pessoas. Às vezes, achamos que estamos estagnadas, mas, na verdade, isso pode ser um sinal positivo, mostrando que, independentemente das tendências ou modas do momento, continuamos fiéis a nós mesmas.
Hoje a cor pode ser rosa, amanhã azul, e parece que estou sempre no mesmo lugar. No ano passado, quando tive a primeira oportunidade de criar uma coleção, pensei: "Caramba, este é o maior sinal de que estou no caminho certo." Percebi que, mesmo não sendo o tipo de influenciadora que está sempre seguindo as últimas tendências, eu continuo mostrando minha personalidade e promovendo um guarda-roupa inteligente, com peças versáteis. Acredito que todos podem ter uma peça chamativa, uma estampa diferente, um brilho ou uma cor vibrante, mas todos precisam de um guarda-roupa inteligente, com peças básicas e versáteis. É importante ter esses itens básicos para compor diferentes looks. Sempre priorizei oferecer peças que as pessoas já tenham em seus guarda-roupas e que possam se inspirar em mim para usá-las, como um blazer, uma camisa ou um jeans. Dessa forma, elas podem criar novos looks sem precisar comprar novas peças, promovendo um consumo mais consciente.
É claro que existem peças coringas, e eu procuro trabalhar com marcas que priorizam a qualidade, para garantir credibilidade ao meu público. Quando eu divulgo uma marca, podem confiar que ela realmente representa o que estou querendo transmitir. Acredito firmemente que, a longo prazo, as influenciadoras que se destacarem serão aquelas que conseguem trazer mais personalidade, em vez de apenas seguir tendências. As pessoas querem consumir algo autêntico e real.
3. Como você vê essa relação, tanto do público quanto da imprensa, da criação de uma necessidade de consumo exagerada com o seu próprio processo criativo? Você se sente pressionada pelo público, pelo mercado, para pensar em uma produção que seja mais ligada às tendências?
Levando em conta o conteúdo que crio como influenciadora, acredito que o público que me segue já entende que, se estou usando algo que está na moda e é uma tendência, é porque realmente condiz comigo. Não é algo que estou promovendo apenas para aumentar o engajamento.
Já deixei de me preocupar com o engajamento. Quando observamos outras plataformas, como TikTok e Instagram, percebemos que as tendências têm maior procura, especialmente entre os mais jovens, que querem estar atualizados com o que está acontecendo. No entanto, acho que o meu público entende que não vou trazer sempre o que está na moda, mas sim aquilo que realmente me representa.
Hoje em dia, isso não é mais um problema. Na verdade, acho que seria estranho se eu trouxesse algo que não faz sentido para mim; meu público perceberia de imediato. Se alguma marca me enviar uma peça que não costumo usar, meu público pensaria: "Calma aí, isso está na moda, mas não é a Vitória." Portanto, tudo já está bem definido na forma como crio meu conteúdo. Em relação à criação das minhas coleções, desde a colaboração do ano passado, sempre quis enfatizar um guarda-roupa inteligente, com roupas fáceis de combinar.
Nunca priorizei tendências, mas sim peças atemporais que duram no guarda-roupa e ficam bem em todas as mulheres, desde as mais jovens até as mais maduras. Isso sempre foi uma prioridade para mim, algo que acredito ter herdado da minha mãe. Minha mãe sempre teve um guarda-roupa com peças neutras, e eu cresci com essa mentalidade bem definida. Felizmente, não sinto tanta pressão para estar constantemente atualizada com as tendências do momento.
4. Essa é a segunda vez que você assina uma coleção, a primeira foi com a Nanaminze. O que a gente pode esperar da nova coleção feita em parceria com a Giah Studio?
A alfaiataria continua presente, mas, desta vez, a coleção será mais focada no verão, com peças em linho e materiais mais leves. Essas roupas poderão ser usadas tanto no outono quanto no verão. Também pensei em um guarda-roupa inteligente para a mulher prática, que deseja se sentir segura e bem vestida, sem precisar pensar muito ao se arrumar. A coleção terá uma cartela de cores versátil e coringa, que se encaixa facilmente com o restante do guarda-roupa.
Na primeira coleção, eu fui a modelo da campanha, na primeira colaboração do ano passado com a Nanaminze. Desta vez, quis fazer diferente: decidi ficar por trás das câmeras para que as pessoas percebessem que eu estava realmente envolvida em todo o processo, desde a escolha dos tecidos até a produção no dia do ensaio. Queria que as pessoas vissem que carrego comigo essa paixão pela criação. Não preciso necessariamente ser a pessoa vestindo as roupas para que imaginem como ficariam em mim; basta olhar para a coleção para saberem que é minha.
Acho que o maior desafio é que, em cada colaboração com marcas diferentes, preciso garantir que a essência da Vitória esteja presente. Por isso, continuo incorporando a alfaiataria nas coleções. No entanto, é um grande desafio manter a alfaiataria e, ao mesmo tempo, trazer uma nova perspectiva, uma campanha diferente, uma estética renovada e explorar novas matérias-primas. Sempre fico com aquela sensação de que poderia ter feito mais, porque ideias e criatividade não faltam. É desafiador, mas também muito gratificante. Com essa coleção, sinto que estou cada vez mais próxima de mostrar a Vitória que realmente quero apresentar.
Como influenciadora, percebo que o mercado está sempre em movimento, com novas influenciadoras surgindo o tempo todo. Acredito que meu diferencial seja justamente esse: não sou apenas uma influenciadora que cria conteúdos, mas alguém que realmente colabora com a marca na criação. Quanto mais eu puder mostrar às marcas que, independentemente de qual eu esteja trabalhando, estou levando a verdadeira essência da Vitória, maior será o meu prazer em realizar esse trabalho.
5. Dentro do processo criativo com a Giah Studio, qual foi a coisa mais gratificante desta segunda coleção?
Eu pensei que talvez não conseguiria inovar. Quando pensamos em alfaiataria, é comum associá-la ao estilo tradicional, e é difícil imaginar uma alfaiataria com recortes diferentes. Também é um desafio distinguir uma peça de outra, especialmente de uma marca para outra. No entanto, há uma peça que tem um lugar especial no meu coração, que há muito tempo fazia parte das minhas referências. Sempre quis trazê-la à tona, mas com uma modelagem e um tecido diferentes. Isso me deu uma sensação de realização e me motivou a continuar fazendo o que estou fazendo, pois, aos poucos, tudo está dando certo.
6. Qual foi o maior aprendizado que você teve da primeira collab para essa segunda com a Giah Studio?
Uma coisa que a dona desta segunda marca me disse foi: "Vi, ter vontade de criar e fazer colaborações é algo que todas as marcas têm. Mas é difícil encontrar alguém que tenha uma verdadeira conexão e abertura para ouvir ambos os lados." Acho que isso é fundamental em uma colaboração—saber que haverá opinião dos dois lados e que, de certa forma, você deve levar seu estilo, mas também respeitar o estilo do outro.
Essa parte da colaboração me ensinou muito e mostrou que a confiança é construída ao longo do tempo. É claro que isso leva tempo; não é possível uma marca aparecer do nada e dizer "Vamos fazer uma collab." É um trabalho que começa lá de trás, com marcas que já trabalham comigo há mais tempo e me conhecem bem. Entender que estamos em um mercado onde somamos forças para nos tornarmos mais fortes é essencial. Não deve haver competição, mas sim união, pois o mercado é vasto e repleto de criatividade. Para mim, essa experiência foi realmente muito enriquecedora. Quando unimos forças e nossos propósitos são compatíveis, isso pode se tornar algo grandioso e muito especial.
Essa experiência me fez mudar muito e acredito que as pessoas também precisam evoluir nesse aspecto. É importante não criar concorrência desnecessária; quando nos unimos, mostramos mais segurança no que apresentamos e conseguimos alcançar um público maior. Para mim, foi uma experiência muito bacana, e trouxe isso para a segunda coleção. Entender o ponto de vista da dona da marca, e ser compreendida por ela, foi fundamental para que as coisas fluíssem bem.
7. Falando sobre mercado de moda nacional, você percebe uma certa evolução, principalmente da alfaiataria de alta costura do mercado de moda nacional?
Sim, uma marca de referência para mim é a Glória Coelho. Ela consegue incorporar a alfaiataria com muitos recortes, e acho isso incrível. Ela é uma grande inspiração para mim, sem dúvidas. A Misci também é uma marca que se destaca por trazer uma diversidade de matérias-primas e uma alfaiataria impecável. Para mim, essas duas marcas são muito inspiradoras. Acredito que o mercado está mudando bastante e que a tendência da alfaiataria está se tornando cada vez mais forte. Isso desafia as marcas a explorarem novas modelagens. Eu mesma tento trazer a alfaiataria com uma modelagem mais oversized, incorporando elementos masculinos para quebrar o tabu de que as mulheres devem usar apenas roupas com modelagem feminina. Existem opções para todos, e cada um deve vestir o que se sentir bem.
Sempre disse que, quanto maior a alfaiataria, mais me sinto segura. Sinto que a parte da matéria-prima e da modelagem está mudando bastante no mercado, e isso me deixa muito feliz. Temos muitas inspirações também fora do Brasil, mas acho que o Brasil está avançando ao trazer mais diversidade em matérias-primas e modelagens, o que é muito positivo para nós.
8. Ainda nessa direção, você percebe uma maturidade também do público, não apenas o público que acompanha esses trabalhos nas redes sociais, através da imprensa, mas o público que consome. Hoje você tem um público mais maduro que tem uma necessidade de consumir esse tipo de moda?
Sim, é curioso. Quando lancei minha primeira coleção, apesar de ter pensado muito no conceito de um guarda-roupa inteligente e em trazer peças em cores básicas e necessárias, por um momento me questionei se estava criando peças muito simples e fáceis de encontrar. No entanto, por exemplo, criei uma camiseta com a parte de trás mais alongada do que a frente. Tentei repaginar as peças básicas, adicionando detalhes diferenciados.
Houve um momento em que senti uma certa insegurança, pensando: "Será que as pessoas esperam algo muito diferente de mim, uma modelagem totalmente inovadora, peças únicas?" No entanto, percebi que o público está, na verdade, em busca de peças básicas, mas que transmitem qualidade e um design realmente pensado. As pessoas querem investir em algo durável, não apenas em tendências passageiras. Com a minha primeira coleção, percebi o quanto houve procura por peças que eu inicialmente considerava simples. Acredito que as pessoas estão dispostas a investir em itens que têm mais durabilidade e que podem até ser passados de geração para geração, de mãe para filha.
Às vezes, estou postando uma foto em casa, usando uma calça jeans e uma regata, e penso que ninguém vai comentar, mas, surpreendentemente, as pessoas perguntam sobre isso. Acredito que o meu público está interessado no básico, mas no básico bem feito—no essencial, mas com qualidade.
9. Quais dicas você daria para quem está começando na produção de conteúdo de moda e que está na dúvida sobre como se expressar, como criar uma estética, como ter essa auto-expressão muito visível dentro do próprio trabalho?
Quando comecei a modelar, sentia que, enquanto minha altura era aceitável no sul, em São Paulo eu seria considerada baixinha. Por isso, sempre procurei trazer algum diferencial para que a minha falta de centímetros não limitasse os trabalhos que eu pudesse conseguir. Talvez o fato de eu querer tanto pesquisar formas de expressão e como as modelos se posicionavam diante das câmeras tenha se tornado um diferencial meu. Além disso, isso me ajudou a descobrir que eu realmente sentia prazer nessa área.
Lembro que, quando comecei a modelar e ainda morava em Florianópolis, postava muitas referências no meu Instagram, com várias fotos conceituais. Eu amava produzir editoriais. Às vezes, eu mesma criava os projetos, chamava o fotógrafo e o maquiador, e fazia o styling. Sempre gostei muito de expressar minha criatividade dessa forma. Quando postava essas fotos mais conceituais, algumas pessoas chegavam a me dizer: "Vi, não faça isso porque não vai te levar longe e não vai te dar dinheiro; o que dá dinheiro é o comercial." E eu sempre pensava: se eu deixar de fazer o que realmente gosto, vou deixar de ser a Vitória.
Talvez agora eu encontre prazer no trabalho, porque estarei ganhando dinheiro e as marcas vão me reconhecer. No entanto, a longo prazo, posso olhar para trás e perceber que a Vitória se perdeu. E resgatar essa essência será muito difícil. Levei isso muito a sério e continuo levando até hoje. Acho que, embora devamos viver o presente, também é importante fazer planos para o futuro. Quem você quer ser? Qual é a Vitória que você deseja ser no futuro? Como você quer ser reconhecida lá na frente? Quando fiz a transição para influenciadora, lembro que, no início, várias marcas começaram a me procurar.
Lembro que, enquanto estava em São Paulo, minha mãe me ligava e eu estava chorando. Dizia a ela: "Mãe, estou recusando trabalhos e marcas." Sempre priorizei trabalhar com marcas que compartilhassem propósitos semelhantes aos meus, ou que oferecessem roupas com as quais eu me sentisse representada e que tivessem qualidade. Para mim, era essencial criar uma credibilidade com meu público, para que eles realmente conhecessem quem é a Vitória. Não valeria a pena trabalhar com uma marca que me pagasse bem, se eu tivesse que postar roupas totalmente fora da minha identidade.
Quem meu público vai dizer que eu sou? Como serei reconhecida por eles? Acredito que, independente do sistema ou do que tentam impor e empurrar para você, seja o que é certo ou errado, o importante é manter-se fiel a si mesma. Fortaleça sua identidade e personalidade, porque acredito que, a longo prazo, as pessoas que se mantêm fiéis a elas mesmas desde o início são as que se tornam verdadeiramente resilientes.
Posso dizer por experiência própria que não há nada mais prazeroso do que olhar para trás e ver que, desde o início, eu me mantive fiel a mim mesma. Acho que o resultado disso está aparecendo agora nas propostas de colaborações, porque, se eu não tivesse essa personalidade, as marcas talvez não teriam confiança em mim. É um processo que leva tempo, mas garanto que não há nada mais gratificante do que ser fiel a si mesma.
10. O que é moda para a Vitória Faustino?
Para mim, a moda é literalmente uma forma de expressão. É curioso, porque quando decidi fazer faculdade de fisioterapia, meus pais queriam muito que eu estudasse moda. Olha que loucura! É como se eles reconhecessem meu verdadeiro eu antes mesmo de eu me conhecer. Eu sempre digo que tudo o que envolve moda e arte é uma forma de expressão. Se me convidarem para estar em um estúdio segurando um rebatedor, eu ficarei muito feliz, porque sei que estarei no meio em que posso aprender. Moda é isso para mim: é arte, e não há como separar as duas coisas. Moda é expressão, é comunicação. Para mim, moda é tudo. Quanto mais trabalho com isso, mais tenho certeza de que é o que eu quero para minha vida.