Complete Collection: Designers 3D

Bem-vindo à 1ª edição da Complete Collection, uma série curatorial que contempla o trabalho criativo nas suas múltiplas manifestações.

Creative Network // Complete Collection
Maio, 2024

Nesta primeira edição, mergulhamos nas criações de artistas 3D, um grupo que tem como desejo reimaginar a realidade, projetar futuros alternativos e reconfigurar as condições que moldam o nosso mundo atual, transbordando em inovação no resultado final de suas obras.

Desde roupas de moda, objetos de mobiliário, filmes, jogos online até carros e casas - essas são algumas das categorias que esses profissionais conseguem desenvolver, utilizando softwares especializados para criar modelos tridimensionais, que podem ser usados em animações, visualizações arquitetônicas, produção cinematográfica, jogos de vídeo e muito mais. Mesmo sendo considerada nova, essa profissão continua a se desenvolver junto com as novas tecnologias que surgem a cada dia.

Com as mudanças que aconteceram nos últimos anos e que consequentemente aceleram a busca por reinvenção e escape da realidade existente, a criatividade foi uma das principais ferramentas que direcionaram para o novo mundo. Criativos, em sua maioria, começaram a buscar novas formas de expressar suas ideias em nosso universo digital. A nova geração, conhecida muitas vezes como Nativos Digitais, aprendeu a combinar suas habilidades criativas com os novos instrumentos e dispositivos, desenvolvendo uma explosão de terras de fantasia imersivas, avatares assustadoramente realistas e subversões hiper-reais do mundo que conhecemos.

Caminhando em direção e construindo o futuro que conheceremos em breve, os Designers 3D poderiam ser considerados os "Arquitetos Virtuais do Amanhã".

Para apresentar melhor essa profissão e entender a mente por trás desses criadores, a Complete Magazine fez uma curadoria de profissionais que estão ressignificando e deixando seu legado marcado com códigos e texturas em cada modelagem. Respondendo apenas duas perguntas, os Designers apresentados nos contaram:

"Como você cria ou re-imagina a própria realidade através do seu trabalho?"

"Quais são as tecnologias, sentidos e/ou sensações que materializam o seu processo criativo?

Confira o trabalho dos integrantes da comunidade criativa Complete Magazine.

Raphael Magalhães

Raphael Magalhães é um artista digital  pernambucano morador do Rio de Janeiro, usando o pseudônimo LAMA, derivado de suas experiências no grafitti, traz consigo referências ao movimento manguebeat e suas origens. Ele é um profissional multidisciplinar apaixonado por transformar ideias em realidade por meio da arte digital e tecnologia.

Transitando pelas dimensões 2D e 3D, sua jornada profissional abrange desde modelagem 3D e ilustração até animação e desenvolvimento de jogos. ele explora os limites da criatividade no universo digital emergente. Engajando em projetos  na Web 3, construindo comunidades e espaços no metaverso, utilizando tecnologias inovadoras como AR, VR, impressão 3D e IA para criar experiências que transcendem os domínios digital, físico e analógico. Uma de suas vertentes de trabalho mais autoral, se apresenta em sua prática como VJ e em experimentações em performances visuais em tempo real, fluindo pela glitch art e new media art, desenvolvendo instalações interativas em espaços culturais de renome.

Além disso, ele é o fundador da Pico Factory, empresa especializada na produção de Art Toys e colecionáveis por meio da tecnologia de impressão 3D, criando experiências que combinam aspectos físicos e digitais de forma inovadora. Sua missão é elevar a criatividade, criando itens colecionáveis e experiências que cativam e surpreendem.

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"Não posso falar sobre como crio e recrio minha realidade sem antes passar pela minha identidade como um nordestino em diáspora, estando nessa posição por diversos momentos na minha vida me senti num “não lugar”, não pertencente às duas realidades que faço parte,  essa inquietação me impulsiona a encontrar meu lugar, tanto no meio artístico quanto na realidade que vivencio.

A forma como essa dimensão transpassa meu trabalho se apresenta numa constante busca interna por uma linguagem ou identidade própria, o que me leva a constantes experimentações em novas mídias, traduzindo pensamentos em rabiscos, para modelos, para peças físicas e experiências visuais.Ou seja, a forma que ressignifico minha realidade sempre passa por minhas raízes, mesmo que indiretamente, é sobre lembrar de onde você vem para saber onde chegar."

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"Durante meu processo de produção artística eu costumo transitar por diversas mídias, sejam digitais ou analógicas, porém na base de tudo sempre vão existir os famosos papel e lápis. Eu venho de uma base da ilustração, iniciei minha jornada desenhando anime e personagens de desenho animado, com o amadurecimento de minha visão comecei a experimentar novas mídias e suportes, passando pela pintura digital, aquarela, guache e até grafitti, até o ponto de descobrir a animação e suas possibilidades. Daí pra frente o passo lógico nessa progressão era o 3D, e meu amigo, foi aí que as portas se abriram, hoje exploro dentro de meu processo criativo a materialização de minhas ideias através das mídias da escultura 3D, modelagem em VR, realidade aumentada e impressão 3D, tecnologias essas que me auxiliam a tornar minhas criações mais palpáveis.

Durante o processo costumo sempre iterar muito sobre meu trabalho, muitas vezes prototipando várias versões da mesma peça, o que muitas vezes torna meu processo lento, porém quando finalizo algo o resultado final tende a ser bem polido. Outra vertente da minha pesquisa artística passa pelas experiências como VJ, utilizando de mixers de vídeo analógico, fitas VHS e tvs de tubo para criar experiências e instalações luminosas que desafiam o olhar, além de serem o suporte onde mais sinto liberdade para me deixar levar pelo processo.

Pode-se dizer que sou um grande generalista, um faz tudo, mas acredito que ao percorrer diversos caminhos, podemos apreciar a jornada e criar um leque de habilidades que em algum ponto da caminhada irão se cruzar, e é nessas interseções que encontramos uma infinitude de novas possibilidades criativas."

Camilla Baratucci

Camilla Baratucci é formada em desenho de moda e atua hoje como designer gráfica e ilustradora digital.

Seus trabalhos carregam experiências sensoriais através de texturas e cartelas de cores vibrantes, traduzidas visualmente pelo universo do 3D.

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"Gosto de ver meu trabalho enquanto distorção descontraída do real, o comum num contexto de cor e textura do imaginário resultam num exercício divertido de visualizar a realidade." 

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"O universo 3D foi o meio que encontrei para transpor minhas ideias em imagens. o tridimensional funciona mais como essa ferramenta expandida em possibilidades para ilustrar do que o purismo racional e objetivo da técnica em si. Imagino texturas e objetos cotidianos inseridos em contextos lúdicos e não convencionais. Combinar referências que entram e saem do lugar comum é importante pro meu processo criativo. Cores, objetos, espaços partem da experiência do cotidiano e da memória."

Joicelaene Souza

Joicelaene é Designer de moda 3D, produtora de moda, modelista e arquiteta, atuante no desenvolvimento da modelagem de roupas de forma digital e criadora de experiências de realidade aumentada dentro das mídias sociais. 

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"Com o meu trabalho, re-imagino a realidade como uma forma de abrir caminhos e criar novas expressões criativas dentro do mundo da moda, experimentando formas que ainda não existem na moda convencional, seja imaginando modelagens e roupas que se transformam, ou com roupas que interagem com ambientes futuristas e ambientes virtuais. Com isso, tenho uma grande liberdade de experimentação o que me permite me desafiar constantemente e explorar novos conceitos e idéias."

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"Busco materializar o meu processo criativo estando em constante atualização e de uma forma bem orgânica, em contato com o que pode estimular a minha criatividade através de  leituras, cinema, músicas, visitas a museus, além da prática e estudo dos programas relacionados ao design de moda 3D como o Clo3D, Style 3D, Substance 3D, BLENDER e, com tecnologias que me permitem visualizar as minhas criações em ambientes imersivos como a realidade virtual e a realidade aumentada."

Antonio Azzolino

Antonio Azzolino, designer industrial, formado pela Belas Artes em 2017. Artista 3D especialista em animação, modelagem e renderização e fabricação, com 7 anos de experiência em VFX, trabalhando com grandes marcas como Melissa, Nubank, Alok, The Force e Decentraland.

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"Por ser designer industrial tento estar cada vez mais rodeado no meu dia de objetos desenhados por mim, acho que não dá para ficar mais literal do que isso, agora com os mundos virtuais isso está cada vez mais se intensificando a sensação de correr e explorar por dentro da propiá imaginação e até mesmo receber amigos dentro dela."

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"Eu gosto sempre de fechar os olhos e jogar o que eu chamo de xadrez volumétrico, imaginar e combinar os volumes e formas de maneira que atendam o objetivo que quero chegar, precisa dobrar aqui, ou precisa rodar ali, tem que encaixar ou tem que desmontar, fico horas meditando até eu sentir que já fiz todas as jogadas antes de começar um trabalho isso tudo se aplica tanto para objetos reais como virtuais depois caio no desenho e no 3d simultaneamente"

Maria C. Ribeiro

Maria C. Ribeiro é Designer, Artista multimídia e Visual Developer. Formada em Design pela PUC-Rio.

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"Gosto de contar histórias através de paisagens visuais e sonoras. Me encanta imaginar situações a partir de uma determinada cena. Às vezes, sem tanto atento metodológico, me pego construindo intuitivamente, e procurando traçar do resultado um caminho inverso para tentar encontrar as motivações por trás de cada elemento utilizado e retratado."

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"Meu processo costuma começar fora de casa, a partir de uma imagem ou ideia, de conversas e sons. Para todo lugar levo um caderninho onde tento desenhar e anotar tudo que me instiga curiosidade. Dessa matéria analógica costumo transitar pro digital - descobrir novos softwares e experimentar tanto com as minhas limitações como com os limites e potências de cada mídia."

Priscila Nassar

Seu trabalho consiste em experimentar novas tecnologias e desenvolver narrativas digitais de moda, seja através de experiências 3D, CGI, XR com realidade aumentada e virtual. Definiria seu trabalho como versátil. Priscila Nassar gosta de experimentar novos softwares e técnicas digitais, bem como de encontrar formas de perpetuar o seu trabalho, seja através de campanhas para marcas ou na Web 3.

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"O 3D e novas tecnologias me possibilitaram materializar -digitalmente- minhas visões e monetizar de um trabalho criativo. O 3D em si, é um trabalho que pode ser muito técnico, então acho desafiador trazer essa camada ao criativo e a camada criativa na parte técnica do processo. Gosto de trazer uma abordagem de resolução de problemas ao aprender, acho que também é um exercício de criatividade. Eu sempre fui uma pessoa lógica e que também gosta muito de visuais, do apelo artístico e de moda. Então no 3D e nas Novas Techs consegui mesclar esses meus dois lados.

Eu sempre fui muito ligada na internet, desde de criança criando arte digital - desde no Layouts no Neopets, no Tumblr etc. Sempre me expressava digitalmente e estava presente em comunidades de arte digital. Então qualquer novidade sobre, eu era curiosa sobre. O que aconteceu quando comecei em NFTs, onde comecei a monetizar meu trabalho.

Em paralelo, na faculdade -época de pandemia- quando fiz meu TCC sobre “A Digitalização do Corpo e da Moda”. Naquela época, a forma mais próxima de reimaginar a realidade era digitalmente.

A partir daí, continuo trabalhando com arte digital. Meu trabalho artístico tem se mesclado também com meus trabalhos para marcas, como freelancer. Isso para mim é transformador, porque consigo me monetizar. O que me ajuda e me empodera a aperfeiçoar mais meu trabalho artístico."

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"As tecnologias que materializam meu processo criativo são 3D, CGI e Tecnologias de Realidade Estendidas (AR, VR). Meu trabalho tem um apelo muito visual, mas também amo trabalhar com algo mais imersivo, como na realidade virtual ou também co-criar com artistas sonoros.

Já as sensações, elas se concentram nas cores e misturas de várias referências que filtro em minha cabeça. Desde em IRL até na própria cultura de internet. No início, ao começar com 3D, eu juntava muito minhas experiências pessoais, desde fotos de roupas que usava, pinturas manuais que eu fazia, experimentos de programação criativa etc. Era bem experimental.

Hoje em dia, estou me aperfeiçoando mais tecnicamente junto do criativo. Tanto pelas demandas de marca também pelo desejo meu de enxergar mais nuances e sutilezas do processo. Trazer mais qualidade estética e ficar mais atenta em detalhes. Além disso, hoje em dia acho que a Arte diz mais sobre os caminhos que você toma, mais do que a imagética em si. Hoje a gente é muito consumido por imagens, então para mim a Arte vai além de um trabalho individual, é também são os espaços que você ocupa, um ato de co-criar, impulsionar outros artistas, e achar meios de transformar sua realidade."

Murillo Henrique

Murillo Henrique tem 25 anos e desde pequeno sempre foi apaixonado por videogames, computação gráfica e quadrinhos. Tentou fazer alguns cursos de desenho, pois amava a ideia de ser capista de quadrinhos, porém achava muito difícil e complexo desenhar, e resolveu partir para a arte 3D, inspirado pela área dos colecionáveis. Atualmente, está mais focado no estilo de toy art e sente-se muito feliz por ter se encontrado na sua arte e no seu estilo.

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"Para começar um trabalho pessoal deixo o sentimento e as formas irem me guiando, não uso muitas referências no início para deixar a minha mente fazer o trabalho tento ir sentindo e reproduzindo o que vou visualizando e sentindo."

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"Sempre fui uma pessoa com a cabeça muita pensativa e esquisita hahaha ,gosto do bizarro,chamativo e colorido  (me inspiro muito no trabalho de moebius e junji ito) atualmente busco seguir o estilo de arte chamado toy art e fazer obras inspiradas em sentimentos próprios e como eu me vejo e sinto sobre eles ,geralmente busco como referência artistas como Giovani Caramello que em apenas em uma peça passa um grande sentimento e sensações e Joseph Klibansky que tem esse estilo de toy art visando galerias."

Denu

Denu (ele/dele) é artista não-binário natural de Porto Alegre. Autodidata, seu trabalho centra- se sobretudo na criação de arte digital e 3D, unindo conhecimentos de animação, videomaking, design e síntese sonora adquiridos ao longo da sua prática artística.

Trabalha com a venda de obras digitais, através de plataformas de NFT, e é artista gráfico residente do MUTHAl, o Museu Transgênero de História e Arte do Brasil. Nos últimos ano desenvolveu as séries “Dive” (Mergulho), “Oblivion System” (Sistema de Esquecimento) e “Mind Games” (Jogos Mentais), além de realizar exposições em Porto Alegre, São Paulo, Brasília, Nova York e Tunis.

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"Eu brinco que meus projetos relembram “Escapes Virtuais”, que funcionam como uma espécie de refúgio onírico. Cada obra desenvolve seu próprio universo digital, através da ressignificação de arquétipos e signos, provocando os sentidos de uma maneira quase rítmica, em harmonia desorganizada. São ecossistemas que exploram outros corpos e dimensões, tensionam o estranho entre o fixo e mutável, o espírito e a matéria, o que é explícito e oculto e tudo que coexiste entre esses mundos. Acredito que primeiramente esses escapes eram, ou melhor - tinham intenção de ser, refúgios seguros, confortáveis, lugares que eu imaginava pra realmente escapar e me acolher do mundo externo. Era uma maneira de me conectar com essas fantasias, um lugar de pertencimento. Acabou que, com o tempo, o conforto se tornou desconfortável. Longe de ser uma fuga, meu trabalho acabou se tornando uma ferramenta de mergulho e imersão pessoal, uma dança em frente ao espelho. Como um resgate de dados, memórias, desejos e fantasias íntimas, que encontraram nessa linguagem um espaço pra existir. E como um espelho, o reflexo passou a ser outro. As paisagens se tornaram mais densas, as formas mais expressivas, o metálico mais afiado.. Surgiram máscaras e seres cada vez mais humanos. É doido pensar em como uma coisa vai levando a outra e tudo se conecta de alguma forma. É a partir desse improviso que manifesto a criação de novas narrativas, que só são possíveis à partir de um momento único de troca entre “eu” e o que surge na tela. Conforme fui me apropriando dessas ferramentas, acabei encontrando um espaço pra expressar e manipular, também, aquilo que percebo como realidade."

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"Desde pequeno, minha identidade atravessa e compõe imaginários possibilitados à partir de uma relação entre eu-máquina-mundo, sendo um a extensão do outro e vice-versa. Quando comecei a estudar 3D e modelagem no youtube, não tinha um computador que permitisse desenvolver trabalhos que “imitassem” a vida real e suas formas, texturas, sentidos. Ao mesmo tempo que isso era limitante, me possibilitou explorar novas maneiras de expressão. Meu processo criativo quase sempre partiu do experimentalismo. Tudo que eu crio é uma manifestação espontânea e presente da troca curiosa que tenho com novos softwares. É onde eu deposito minha raiva, tristeza, minha confusão, felicidade, pressa… Acho que mais do que tudo, é o que acontece quando sinto desejo. Se me desperta curiosidade, se me desperta interesse, eu preciso ir até o final. É como um impulso que toma conta, posso ficar horas sentado e não mudar quase nada do que tô fazendo. Se não senti que não chegou no final, não vou ficar satisfeito. E as vezes é isso mesmo, são 3 giros até voltar no mesmo lugar e perceber que foi preciso esses 3 giros pra que tudo fizesse sentido. Não interessa muito o resultado final, as vezes, inclusive, eu acabo estragando tudo haha é muito mais sobre essa energia que se manifesta e procura um escape pra canalizar. Hoje em dia se manifesta muito através do 3D, mas até chegar aqui foram muitas outras formas. Desenho, pintura, pixo, fotografia, vídeo, música, design.. Acho que “acabei” no 3D porque acaba misturando todas essas linguagens. Hoje em dia quero conseguir pesquisar mais a fala e a escrita, pra compor narrativas mais complexas. As vezes sinto que tudo conversa muito comigo, e apesar de ter escolhido os a linguagem visual por ser mais subjetiva, sinto falta de expressar com mais clareza as minhas obras. É uma vertente que ainda vou trazer nos próximos projetos. Sinto que é um pouco sobre isso também, se tem algo que me deixa desconfortável, é através do processo criativo que acabo me curando. É um desafio, mas é um processo muito sincero comigo mesmo."