Schiaparelli FW25/26: Entre o Velho Oeste e o Futuro da Moda

LONE STAR: O olhar de Daniel Roseberry sobre a mulher Schiaparelli

Moda // Other Side
por Caíque Nucci
Março, 2025

Desde que assumiu a direção criativa da Schiaparelli, Daniel Roseberry transformou a maison em um fenômeno cultural. Dos tapetes vermelhos mais icônicos ao desejo latente por peças que unem surrealismo e sofisticação, sua abordagem manteve vivo o espírito ousado de Elsa Schiaparelli, traduzindo-o para o presente. Agora, para o outono/inverno 2025-2026, ele nos leva ao Texas, suas raízes, e propõe uma mulher que transita entre opostos: delicada e imponente, prática e opulenta, solitária e magnética.

A coleção LONE STAR é um mergulho nessa dualidade. Inspirado pela força das mulheres ao seu redor, Roseberry reflete sobre o real significado do vestir feminino: longe do olhar masculino, perto da essência de quem veste. As peças oscilam entre arquétipos masculinos e um feminino divino, incorporando referências do Velho Oeste em uma leitura sofisticada e escultural.

Cowboy, mas make it Schiaparelli

A silhueta revisita o universo western sem cair no óbvio. Jaquetas de couro em tom marrom trazem estampas em relevo com códigos emblemáticos da casa, acompanhadas de calças de alfaiataria de cintura alta e botas western de salto fino. As fivelas oversized aparecem como esculturas em metal dourado, destacando elementos como fechaduras e olhos – símbolos já clássicos da Schiaparelli.

O jogo de texturas transforma o rústico em luxo: um pequeno clutch que à primeira vista parece esculpido em cobre é, na verdade, um couro especialmente tratado. Um vestido longo de jacquard pesado se revela surpreendentemente leve, enquanto bodysuits justos, que sugerem restrição, movem-se como uma segunda pele.

Os acessórios seguem o mesmo princípio. As bolsas ganham dimensões épicas, como a nova slouch-side top handle bag, um exagero proposital para uma mulher que carrega o mundo consigo. O clássico Soufflé bag surge cravejado de centenas de tachas douradas, enquanto brincos chandelier e colares de metal texturizado reinterpretam os ícones da maison.

Entre a realidade e a fantasia

Mas a coleção vai além da estética. Roseberry levanta uma questão essencial: o que ainda é precioso em um mundo onde tudo pode ser replicado? Em uma era de excesso de informações e moda ultrarrápida, LONE STAR propõe peças que resistem ao tempo, que não se diluem no efêmero.

A trilha sonora do desfile – a voz rouca de Lainey Wilson – reforça a ideia de que essa é uma coleção para mulheres que andam no próprio ritmo. Gigi Hadid e Mona Tougaard desfilaram com a confiança de quem domina o próprio espaço, reforçando que, no fim, o verdadeiro luxo não está na ostentação, mas na autenticidade.

Em um momento onde o digital nos cansa e a tela já não nos basta, Roseberry nos lembra do poder da experiência física, daquilo que não pode ser traduzido por um algoritmo. LONE STAR não é apenas uma coleção, mas um manifesto: uma ode às mulheres que são, sempre, únicas.

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