SPFW n58 Fashion Show Review: Santa Resistência

"Manifesto Ancestral" de Mônica Sampaio vai além da moda: é uma declaração sobre a importância de preservar nossas raízes para construir um futuro autêntico.

Moda // Spotted: Fashion-System
por Caíque Nucci
Outubro, 2024

Na 58ª edição da São Paulo Fashion Week, a Santa Resistência, sob a direção criativa de Mônica Sampaio, trouxe à passarela uma ode à ancestralidade e ao afrofuturismo com a coleção "Manifesto Ancestral". Inspirada nas tradições das tribos Maasai do Quênia e da Tanzânia, a apresentação propôs uma jornada de autodescoberta, identidade e pertencimento, misturando tradição e modernidade de forma única.

Entre o Sagrado e o Futuro

A primeira entrada foi marcante: manto Maasai imponente que evocava espiritualidade, assinado pelo artista visual Alex Rocca. Logo depois, franjas em movimento e estampas em vermelho e roxo dominaram a passarela, reforçando o ritmo e a energia da coleção. A alfaiataria vermelha entrou em cena, seguida de um sobretudo plissado com estampas intensas, revelando uma construção precisa e detalhada que é a marca registrada da Santa Resistência.

Com o lilás e o roxo ganhando destaque, a coleção se transformou novamente ao introduzir a alfaiataria masculina em preto, criando um contraste intrigante entre leveza e solidez. O xadrez, um clássico reinterpretado, retornou ao lado do cinza chumbo, seguido por uma entrada impactante em azul Tiffany, que trouxe frescor ao desfile. Em meio a essas mudanças de tom, uma nova estampa de mulheres africanas se destacou no tecido azul, representando a força e a beleza dessa cultura.

A Moda como Resistência

No backstage, Mônica Sampaio destacou a importância do casting composto por modelos negros retintos, ressaltando o papel fundamental da representatividade no mercado de moda nacional. “A moda deve ser um espaço de inclusão e celebração das nossas raízes. Essa representatividade vai além da estética, é uma forma de construir um futuro mais justo e plural”, comentou Mônica em seu discurso. Essa escolha só mostra o compromisso da marca com uma moda que é, ao mesmo tempo, resistência e expressão de identidade.

A parceria com a marca Afro Pé, que forneceu chinelos, meias, foi outro ponto que mostrou o poder do trabalho coletivo. Os acessórios trouxeram um toque de conforto e versatilidade às produções. 

Na entrada final, Mônica Sampaio surgiu ao lado de seu stylist, Marlon Mesquista, compartilhando o encerramento do desfile com a equipe que trouxe "Manifesto Ancestral" à vida. A presença conjunta simbolizou a união de esforços na criação de uma coleção que carrega em si tanto a memória das raízes africanas quanto a projeção de um futuro ousado e inovador para a moda nacional.

Celebração da Ancestralidade

Santa Resistência mostrou seu compromisso com a sustentabilidade ao confeccionar as peças com materiais como algodão 100%, seda de algodão, linho e crepe, em colaboração com empresas que compartilham essa visão, como a Eco Simple e a Lunelli Textil. A coleção ainda traz couro de tilápia, uma alternativa ecológica com rastreabilidade via QR Code, que reafirma a busca da marca por soluções inovadoras e sustentáveis.

A marca apresenta uma moda comprometida com a inclusão, e também transforma suas criações em manifestações culturais e políticas. O trabalho com coletivos de costureiras, como as da Maré, e mães solo é um exemplo de como é possível unir moda e impacto social, beneficiando diretamente diversas famílias e promovendo uma cadeia de produção mais justa.

A coleção "Manifesto Ancestral" de Mônica Sampaio vai além da moda: é uma declaração sobre a importância de preservar nossas raízes para construir um futuro autêntico.

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