SPFW N59: Reptilia

A coleção nasce do movimento e da força, do gesto invisível que, ao longo de milênios, esculpe montanhas e cavidades. As roupas também deslizam, mudam de pele, se transformam como paisagens em mutação lenta.

Moda // Spotted: Fashion-System
Por Sarah Rocksane Araújo
Abril, 2025

Debaixo da pele do mundo, pulsa Tectônica: nome que não sussurra, mas ruge, evocando a matéria-prima da Terra, eis o cerne da nova coleção da Reptilia. 

A coleção nasce do movimento e da força, do gesto invisível que, ao longo de milênios, esculpe montanhas e cavidades. As roupas também deslizam, mudam de pele, se transformam como paisagens em mutação lenta. A alfaiataria, firme como rocha, precisa como corte de mineral, carrega recortes que lembram falhas geológicas, silhuetas que desdobram o tempo. Casacos e pelerines emergem como crostas sobrepostas, abrindo camadas que revelam o que antes era segredo. Tudo se articula em peças que oferecem múltiplas versões de si, numa coreografia de possibilidades.

Fotos: Ze Takahashi/ @agfotosite

Veja os principais highlights do desfile na experiência em Realidade Aumentada abaixo

Como a camisaria que estende e retrai suas mangas como placas que se ajustam (ora curtas, ora longas), criando movimento e força a partir da leveza. Entre o rigor da alfaiataria e o sussurro da tradição vitoriana, a Reptilia costura passado e presente, estrutura e fluidez, sombra e brilho. Na superfície, o gesto é técnico, preciso, cortes a laser desenham contornos que lembram arquitetura, mas logo se rendem à pele do orgânico: sobras que viram textura, curvas bordadas à mão como sedimentos de tempo. Uma estampa inédita emerge: feita de areia, rachaduras e água, captura o silêncio do solo do Oriente Médio por meio das lentes de Heloisa. Impressa em seda e rami, a imagem ecoa a paisagem mineral da coleção: tons arenosos, marrons que se aprofundam como fossas, cinzas que brilham sem luz, azuis de pedra e de céu.

Fotos: Ze Takahashi/ @agfotosite

A coleção se dobra ainda sobre os acessórios: mocassins, cintos e bolsas feitos em camadas pela artista Juliana Bicudo, onde o plissado e o corte também falam em fissura e reconstrução. Tudo se encaixa como placas vivas, compondo um vestuário de memória tectônica. Criar, aqui, é escavar; vestir, é mover-se como a Terra: firme, mas em constante reinvenção.

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