Com direção do cineasta Mathews Silva e roteiro de Luís Beires, A Visita é um daqueles filmes que surpreende a cada cena. Com um ar de suspense e revelações que surgem a cada minuto, o enredo foi criado especialmente para tocar o mais duro de todos os corações.
No cenário idílico de uma casa remota, imersa na serenidade da natureza, Mabel, interpretada por Cris Bonna, é uma alegre mulher de idade avançada que aguarda ansiosamente a chegada de seu filho, como uma promessa de novos horizontes na cidade. O que ela não esperava, e nem o espectador, é a chegada de Teresa, personagem incorporada pela jovem atriz Ágata Boni, uma fotógrafa que acaba aparecendo, e se torna hóspede de Mabel.
O que inicialmente poderia ser um mero encontro casual entre estranhos se desdobra em uma jornada emocional onde as duas mulheres se encontram, se reconhecem e se conectam em níveis que transcendem as convenções sociais.
A beleza de A Visita reside na maneira como Mathews Silva consegue captar a essência da conexão humana, destacando a capacidade das pessoas de se encontrarem e se entenderem, mesmo em circunstâncias inesperadas. À medida que as duas mulheres compartilham suas histórias, suas dores e alegrias, uma teia de empatia se forma entre elas, tecendo um vínculo de renascimento através da experiência e das expectativas internas e externas de cada uma delas. É uma celebração da humanidade em sua forma mais pura e simples, onde as diferenças se dissipam diante da compreensão mútua e do cuidado genuíno.
Em última análise, A Visita é sobre amor, amizade e a beleza da jornada humana. No fim, somos lembrados de que, embora o destino possa nos levar por caminhos inesperados, o verdadeiro tesouro está na jornada compartilhada com aqueles que cruzam nosso caminho.
Em entrevista para a Complete Magazine, o Diretor Mathews Silva e a atriz Ágata Boni nos contaram um pouco mais sobre o processo criativo e de construção da filmagem.
CM: Como nasceu a ideia do filme? Quais foram os primeiros passos para tirar ele do imaginário e trazer para a realidade?
MS: A ideia do filme veio de um insight que eu tive no Uber. Curiosamente eu tenho muitos insights que nasceram dentro de Ubers. A ideia original do filme veio daí. Logo em seguida, passei ela para as mãos do Luís Beires, que é o roteirista do filme "A Visita".
Nós já havíamos tido outras contribuições juntos, eu como diretor e Luís como roteirista nos filmes "Passos", "Jasmine", "Astoria" e "Requiem".
Os primeiros passos após idéia original enquanto o roteirista estava evoluindo o roteiro foi ir atrás do elenco, eu precisava enxergar quem seria a Mabel e quem seria a Teresa. Eu tive o prazer de poder trabalhar na direção da atuação da Cris Bona e da Boni. E os primeiros passos foi realmente definir o elenco, pois a locação nós já tínhamos.
CM: A dinâmica do enredo carrega bastante suspense, que se desenrola em uma trama afetiva. Como você acredita que o telespectador irá captar a mensagem principal transmitida no filme?
MS: Nos meus filmes eu costumo entregar o tema principal do filme no terceiro ato, que é onde tem toda a revelação final do filme. Meu dever como diretor é proporcionar uma experiência com uma mensagem no final para o telespectador e, se essa mensagem é recebida, se ela funciona e é significativa, eu me sinto com meu dever cumprido. Eu não consigo entregar toda a mensagem logo de cara por conta do próprio gênero, que é o suspense, pois a certas revelações no filme que entregam o plot do filme e precisam ser apresentadas no momento certo.
Eu acredito muito na construção de definir e revelar a mensagem no terceiro ato e é isso que busco fazer com a minha direção. Posso só antecipar que é uma história de muito afeto, é uma história sobre amor e fica aí um pouco de mistério pra não entregar nenhum spoiler do filme.
CM: Quando paramos para analisar o mercado de cinema independente no Brasil e os desafios atuais que ele apresenta, quais seriam as principais movimentações culturais e políticas que poderíamos ter como coletivo para que ele se transformasse?
MS: Pensando no mercado de cinema independente do Brasil acredito que o que mais precisamos é de mais incentivo e investimento, para que produtores, diretores e roteiristas possam se inserir no mercado e começar a dar vida a novas histórias por meio de diferentes visões cinematográficas.
Sobre o Diretor...
Mathews Silva, um cineasta talentoso, formou-se em publicidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e aprimorou suas habilidades na Escola São Paulo, no Brasil. Conhecido como MS @ms.features, ele dirigiu mais de 100 filmes de moda para marcas como Calvin Klein e Vogue, com a participação de artistas nacionais como Cláudia Raia e Paolla Oliveira.
Seu primeiro curta-metragem, "Passos", estrelado por Gabi Lopes e Kayky Brito, recebeu aclamação, ganhando prêmios no Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles e no Festival de Cinema de São Paulo em 2022. Seu lançamento de 2023, "Em Órbita", também recebeu reconhecimento no Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles.
Silva manteve sua criatividade em 2023, produzindo e dirigindo uma série de curtas-metragens programados para serem lançados em 2024, incluindo "Jasmine", "A Visita", "Bom Comportamento" e "Vácuo". Atualmente, ele está trabalhando em um novo projeto previsto para maio de 2024.
Os filmes de Silva abordam questões sociais como conscientização sobre suicídio, sequestro de crianças, demência e direitos LGBTQ+. Seu compromisso com a narrativa significativa garante que seu trabalho provoque conversas vitais dentro da sociedade.
CM: Durante o processo de construção do personagem, quais foram os caminhos e ferramentas que você utilizou para encarnar Teresa?
AB: Tenho que agradecer minha preparadora, Ana Beatriz que esteve a todo momento comigo nos dias de filmagem, me ajudando com a interpretação, leitura e corpo. Fizemos um trabalho lindo durante e antes de ir para o set gravar. Nas filmagens usei minha vivência, de alguma forma sou Teresa, de tantas que existem por aí, me sinto agraciada de poder ter vivido essa história.
CM: A transformação do profissional pela característica de uma personagem é algo extremamente único para cada um dos atores envolvidos em cena. Como você enxerga a separação entre a vida on e off da frente das câmeras?
AB: Durante uma filmagem me entrego totalmente, aceito as mudanças de styling, a maquiagem adequada para a personagem e vivo o que está sendo contado. Na minha vida pessoal gosto de testar coisas na minha aparência mas de forma geral cada personagem é muito diferente do que você realmente é, o subtexto de cada roteiro ajuda a enxergar essas características, a Teresa por exemplo é fotógrafa, então eu usei minha experiência de vida e percepção em set de filmagens para entregar o que era necessário nas cenas que precisei estar com a câmera. Já na minha vida pessoal, só sei usar a câmera do celular - então a separação acontece quando você percebe que tem coisas que você não faz e não é.
CM: Como você acha que o filme, sua história e o cinema independente podem impactar os telespectadores em uma era digitalizada e estruturada por infobesidade?
É um tema muito atual, muitos jovens passam por problemas familiares, é um drama muito emocional. Então acredito que contar essa história é essencial porque é a realidade e a realidade por aí só já impacta as pessoas em algum sentido. O cinema independente carece de bons roteiros e infraestrutura para funcionar e, trazendo pautas atuais, pode ajudar a fomentar a arte e se comunicar com a galera do digital.
Sobre a Atriz...
Maquiadora de formação, participou de diversas publicidades no audiovisual até receber o primeiro convite para atuação. Atualmente cursando publicidade, é presente nas mídias digitais com conteúdos de beleza e entusiasta na música. A comunicadora integra elenco da agência Jabuticaba, sob os cuidados de Caico de Queiroz.