Este ano, a SP-arte, maior feira de arte do hemisfério Sul, chega a sua 20º edição. O evento que reúne artistas e galerias do mundo inteiro, acontece durante os dias 03 à 07 de Abril no Pavilhão da Bienal no Ibirapuera.
O cenário da Arte no Brasil está se movimentando cada vez mais rápido em direção a uma reinvenção na maneira com que é consumido. Se antes esse espaço era frequentado apenas por jornalistas, compradores, artistas e críticos de arte, hoje encontramos inúmeras outras categorias de profissões análogas à ele. Esse efeito, acredito eu, se deu pela capacidade de acesso e viralização que obras de arte e artistas podem ter em redes sociais. E isso é só reflexo da arte surfando no Dilema das Redes.
Em uma entrevista ao Canal Brasil, a atriz Denise Fraga disse a seguinte frase: "A arte existe para adubar a terra humana." Essa reflexão nos faz perceber o quão potente a arte pode ser. A capacidade de nos fazer refletir, sentir e tocar nosso emocional de alguma forma, é uma função única que poucas coisas no mundo conseguem ter. Quando esse efeito se propaga com o avanço da tecnologia, através da internet, começamos a encontrar artistas captando mensagens no inconsciente coletivo e transformando-as em arte.
Artistas com narrativas decoloniais e resgate ancestral e ambiental, como o carioca Matheus Ribs, artesanatos e peças produzidas por povos indígenas - como feitos pelas etnias Kamayurá, Mehinaku e Waujá e expostos no piso inferior da SP-Arte, obras de arte com efeitos sensoriais, e assim por diante. Toda essa gama de possibilidades do que a arte pode ser, é um respiro para aqueles que a apreciam e que antes, não sabiam como a entender.
Para essa edição, a nossa pesquisa na feira foi um pouco mais focada. Buscamos por artistas que estão relacionando arte e tecnologia. Encontramos alguns - e os que encontramos foram certeiros em suas criações.
Carlos Cruz-Diez
O primeiro e mais esperado por todos foi Carlos Cruz-Díez Caracas, considerado um dos principais expoentes da arte contemporânea.
Carlos Cruz-Diéz é um teórico contemporâneo das cores e seu propósito artístico é baseado em quatro condições cromáticas: cor subtrativa, aditiva, indutiva e refletiva. O desenvolvimento de sua reflexão plástica ampliou a possibilidade de entender sobre a cor, demonstrando que a percepção do fenômeno cromático não está associada à forma. Em suas obras, demonstra que a cor, ao interagir com o espectador, converte-se em um acontecimento autônomo capaz de invadir o espaço sem o recurso da forma, sem anedotas, desprovida de símbolos.
Physichromie (1959) é uma estrutura concebida para revelar certas circunstâncias e condições relacionadas com a cor, mudando de acordo com o movimento do observador e a intensidade da luz, e assim projectar a cor no espaço para criar uma situação evolutiva de aditivo, reflexivo, e cor subtrativa.
Uma Physichromie atua como uma “armadilha de luz” em um espaço onde uma série de molduras coloridas interagem; molduras que se transformam, gerando novas gamas de cores não presentes no suporte. Assim, a cor preenche o espaço confinado entre as folhas verticais — moduladoras de luz — que cobrem toda a obra. Além disso, devido aos efeitos do observador ou da fonte de luz, neles se cria uma série de variações de cores, semelhantes às observadas no espaço real da paisagem.
Dan Flavin
Seguindo a linha dos enigmáticos e inovadores que transformam a luz com arte, temos Dan Flavin, um grande amante da luz e ficou conhecido por utilizar a luz fluorescente para explorar as cores e o espaço, refletindo um estilo minimalista por mais de três décadas.
Ao declarar que um tubo de luz fluorescente poderia se sustentar como uma obra de arte, Flavin desafiou corajosamente a história da arte, onde não houve mais a separação teórica da entre arte e vida cotidiana. Sua única referência é a realidade, o contexto e a percepção do espectador. Flavin foi pioneiro no uso da luz na arte modernista.
Alexandre Mazza
As obras de Alexandre Mazza têm como ponto central a pesquisa do olhar. É principalmente através dos objetos que o artista confronta seus espectadores com jogos visuais: com o que se vê e o que se acredita ver, com o que está ali e o que se imagina estar. Segundo o curador Bernardo Mosqueira: "Um dos grandes interesses de Alexandre é a fé na imagem, a coragem de acreditar no que vemos, mas que está além da própria capacidade fisiológica de enxergar.
Indicado ao prêmio Pipa 2012, o artista já apresentou seus trabalhos em exposições no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ), no Centro de Artes Hélio Oiticica, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, entre outros. Suas obras estão em diversas coleções privadas e públicas como a do MAM RJ e do Museu de Arte do Rio (MAR).
Rodrigo Cass
Em Geometria Sensível, Rodrigo Cass faz o espectador caminhar em direção ao imaginário de uma forma diferente: seguindo a percepção do caos. Através de uma projeção de vídeo sobre têmpera, linho e acrílico, é passado um looping contínuo de uma lâmpada sendo quebrada em uma parede. Desde o início, com a lâmpada inteira, até o final, com a lâmpada em pedaços. Fazendo assim com que tenhamos uma percepção maior de finitude, de que tudo tem um começo, meio e fim. E que até depois do fim, se existe um recomeço.
Rodrigo Cass formou-se em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina (São Paulo, SP), em 2006. Em 2010 foi selecionado para o Bolsa Pampulha (Belo Horizonte, MG) e em 2013 para o Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (SP). Seu trabalho foi exibido no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2015); Musée D’art Contemporain de Lyon, França (2014); Astrup Fearnley Museet, Noruega (2013); The Jewish Museum, EUA (2013); Centre for Contemporary Art, Israel (2008); Medellín Artes Digitales, Colômbia (2008); entre outros museus e instituições.
Pascal Dombis
Em Post-Digital Surface (T2) o artista apresenta duas impressão lenticular em compósito de alumínio, que se movimentam de acordo com a posição do indivíduo, gerando assim uma sensação de confronto e desconforto. O arquétipo de calor e frio também é colocado em cena através das cores utilizadas por Dombis.
Os trabalhos digitais e pós-digitais de Dombis geram o caótico e o irracional a partir da racionalidade indissociável dos algoritmos computacionais, extrapolando-os através de repetições excessivas aliadas ao fator imponderável da aleatoriedade, o que acaba por invadir as fronteiras do desconhecido e do impensável.
Isso é exemplar em suas explorações da geometria fractal, nas quais os padrões repetitivos, as linhas que se dobram e as curvas que se retificam dão vazão a espaços virtuais que agem misteriosamente sobre a sensibilidade do espectador.