Com linguagem acessível, edição concisa e um acervo de imagens que amplifica sua força narrativa, o livro organizado pela curadora Dawn Hoskin reposiciona a história da arte sob a ótica das vivências queer.
Com linguagem acessível, edição concisa e um acervo de imagens que amplifica sua força narrativa, o livro organizado pela curadora Dawn Hoskin reposiciona a história da arte sob a ótica das vivências queer. Longe de ser um mero inventário, a publicação percorre com rigor crítico e apelo visual as dobras e silêncios das representações LGBTQIA+ nas artes visuais. Da escultura clássica à pop art, do art nouveau à arte de rua, passando por instalações em vídeo, o volume cartografa expressões artísticas que, muitas vezes, desafiaram normas sociais e conquistaram espaço simbólico para subjetividades dissidentes.
Em vez de didatismo frio, o texto convida à escuta: o que essas imagens nos dizem sobre resistência, desejo e pertencimento? Ao destacar artistas, obras e movimentos antes marginalizados ou lidos à margem, Hoskin faz mais do que inserir a temática queer no cânone — ela o desafia. Cada capítulo é uma espécie de arqueologia afetiva, escavando figuras esquecidas e resgatando histórias que tecem um outro imaginário possível para a arte. O leitor é levado a reconhecer que as contribuições queer nunca foram periféricas, mas estruturais: moldaram estéticas, tensionaram discursos e inauguraram novas formas de ver e sentir. Ao fazer isso, o livro também desloca o olhar dominante, abrindo espaço para interpretações múltiplas e leituras mais generosas da produção artística global.
Mais do que um guia, a obra é um convite à transformação do olhar, não apenas sobre a arte, mas sobre os próprios modos de viver e se expressar no mundo. Ao combinar análise histórica com escuta crítica, Hoskin constrói uma ponte entre o passado e o presente da cultura queer, mostrando como a arte tem sido, ao longo dos séculos, território de embate, celebração e reinvenção. Em um momento em que discursos de ódio e retrocessos sociais ameaçam direitos duramente conquistados, o livro emerge como um gesto de resistência cultural. Um atlas visual e político, capaz de inspirar artistas, curadores, pesquisadores e leitores a pensarem a arte como linguagem viva de identidades em fluxo.