Os fotógrafos brasileiros Tom Barreto, Thi Santos, Amanda Peron e o colombiano Camilo Galvis estão moldando o presente e o futuro da arte fotográfica. Em uma conversa exclusiva com a Complete Magazine, eles compartilharam suas visões sobre os desafios da profissão e seus processos criativos.
Bem-vindo à 3ª edição da Complete Collection, uma série curatorial que celebra a arte em suas múltiplas formas. Nesta edição, mergulhamos no universo dos fotógrafos, artistas que transformam a realidade em poesia visual, capturando momentos e eternizando histórias através de suas lentes.
Os fotógrafos são os maestros que orquestram a luz e a sombra, compondo cenas que revelam a beleza oculta no cotidiano. Suas câmeras são pincéis que desenham imagens e emoções, desde retratos íntimos e paisagens grandiosas até cenas urbanas e detalhes sutis. Eles exploram a magia de cada instante, imortalizando sorrisos, paisagens e instantes de epifania que muitas vezes passam despercebidos.
Com o avanço das tecnologias digitais, esses profissionais têm à sua disposição ferramentas cada vez mais sofisticadas, permitindo-lhes explorar novas dimensões da criatividade. Em um mundo onde a imagem se torna um reflexo da nossa percepção, eles combinam técnica e sensibilidade para criar narrativas visuais impactantes e únicas.
Na Complete Magazine, acreditamos que cada imagem é uma obra de arte que começa com um simples clique. Por isso, dedicamos nosso espaço para celebrar esses criadores visionários, proporcionando a eles uma plataforma para continuar explorando e expandindo os limites da expressão visual.
Para oferecer uma visão mais profunda sobre essa profissão e entender o olhar criativo desses artistas, selecionamos fotógrafos que estão moldando o presente e o futuro. Respondendo a apenas duas perguntas, eles nos revelaram o que move suas lentes e inspira suas obras.
1. Você pode me contar sobre sua formação e experiência nas indústrias de moda, beleza, design ou cultura?
2. Como você atualmente se relaciona e se conecta com outros profissionais criativos em seu setor?
3. Como você normalmente enfrenta os desafios relacionados ao mercado criativo? Quais sãos os desafios mais recorrentes que você encontrou em sua jornada
Confira o trabalho dos integrantes da comunidade criativa Complete Magazine
Amanda Peron
Amanda Peron é uma fotógrafa conhecida por sua abordagem única e artística. Seu estilo distinto incorpora elementos que elevam a atmosfera de suas fotos, muitas vezes, através de técnicas experimentais para criar composições visualmente cativantes. Seu trabalho destaca-se também pela sofisticação e originalidade.
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“Sou formada há 1 ano em dois cursos: fotografia e modelagem do vestuário. Apesar de não ser o foco dos cursos, ambos me deram uma ótima base dentro da indústria da moda. Por ter um interesse nato no ramo, esses assuntos já são estudados por mim desde sempre, então também tenho muito a agradecer à “mini-Amanda” pela bagagem.”
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“Para mim é essencial a troca entre profissionais criativos. Amo conhecer novos artistas e suas formas de expressão. Gosto muito de compartilhar as ideias e os desafios que todos que estão nessa jornada conhecem. Conversar e achar pontos em comum entre nós, artistas, sempre faz o trabalho fluir melhor e mais naturalmente.”
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“Optar por uma carreira artística no Brasil exige bastante persistência e determinação. Os desafios são diários, desde se inserir no mercado, até manter a fome de criar ativa. Creio que seja impossível estar nesse meio sem amar o que faz, às vezes todo seu esforço parece não gerar resultado, então é necessário se lembrar do motivo pelo qual escolhemos essa profissão. No meu caso, estar em um estúdio e ver um mundo novo sendo tirado da nossa cabeça e criando forma diante dos olhos é o que me mantém encantada. Toda aquela energia é quase como brincar de faz de conta. Poder criar é poderoso.”
Camilo Galvis
Camilo Galvis é um fotógrafo colombiano radicado na Cidade do México, com mais de uma década de experiência na área de imagens. Seu trabalho mescla moda e arte, incorporando uma visão que captura o sutil e o etéreo. A sua prática artística está profundamente interligada com o seu domínio da cor e da luz, que constituem a base da sua arte. Através da sua própria sensibilidade, Galvis explora a interação entre o visual, o emocional, o intangível e o sensorial, criando imagens com uma visão fresca e contemporânea.
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"Trabalho como fotógrafo há 7 anos, focando principalmente em moda e retratos. Cresci em Bogotá e tive a oportunidade de expandir meu trabalho em cidades como Barcelona, Berlim e agora na Cidade do México. Crescer na América Latina tem sido um tesouro para o meu processo criativo. Estar rodeado por uma diversidade tão rica de expressões e estímulos criativos em todo o continente tem sido uma grande fonte de inspiração para mim e para o meu trabalho – um toque único que me esforço para infundir na minha arte. Essa identidade latina me proporciona um espaço para explorar novos mundos, conceitos e atmosferas através da minha fotografia. Além disso, estar num caminho artístico nesta vida significa para mim uma forma de canalizar a fonte da criação divina."
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"Tenho tendência a me aproximar de pessoas que realmente me inspiram; artistas que são mestres em seu ofício são aqueles que atraio e com quem quero me conectar. Sempre considero essas conexões muito úteis para evoluir e aprender. Como faço muito moda, muitas vezes há uma equipe por trás das imagens, então colaborar com pessoas talentosas que trazem ideias contemporâneas e visionárias tem sido uma das minhas maiores bênção."
"Refletindo sobre isso, percebo que quase todas as pessoas com quem me conecto e que me inspiram vêm da América Latina. Não importa onde eu trabalhe, seja na Europa ou nas Américas, acabo sempre por me conectar com pessoas da diáspora latino-americana. Acho que há uma intenção criativa precisa que todos estamos tentando perseguir e que todos entendemos."
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"Um dos maiores desafios do mercado criativo é a subvalorização do tempo e esforço que os criativos investem no seu trabalho. Às vezes me pergunto onde está a linha entre o trabalho que realmente quero criar e o tempo que levará para concluí-lo. A indústria vê apenas o resultado final, mas não o processo criativo, que é onde a maior parte do trabalho – e do valor – é investido. O mercado só quer ver os resultados, o que leva a outro desafio significativo: a pressão para ser produtivo em todos os momentos. A pressão na cultura da Internet para produzir constantemente pode ser avassaladora. Incentiva um ritmo implacável que muitas vezes ignora a necessidade de pausas e reflexão. Para mim, criar um trabalho de qualidade requer tempo para fazer uma pausa e avaliar o que fiz, em vez de apenas seguir em frente sem parar."
Thi Santos
Thiago Santos é um artista visual e expressa em seu trabalho uma fabulosa harmonia de linguagem poética. A orientação de um olhar sensível e refinado encontra-se com escolhas de luz e toques de cor que culminam na construção de imagens poderosas, intensas e sofisticadas.
Presente no cenário contemporâneo da fotografia de moda e publicidade, em meados de 2010 Thiago começou contribuir para projetos de arte e moda que criam sinais e refletem o novo de uma forma absolutamente animada e inesperada. Com trabalhos publicados nos veículos mais relevantes do país e do mundo, como Elle, L'Officiel Italia, Vogue e Revista Claudia.
Em 2014 Thiago dá o start a galeria da rede social, com o seu Projeto: Olha Pra Mim (@projetoolhapramim), que nos leva ao universo retratos, P&B e no formato quadrado, ressaltando a expressão do olhar fotografado e estabelecendo contato imediato com o espectador.
No momento em que a arte do fotógrafo Thiago Santos, "salta" da rede social e torna-se uma mostra fotográfica ocupando espaços públicos de circulação constante de pessoas e ao alcance de todos, se torna o livre acesso a essa fonte de cultura que são as artes visuais, além de fomentar a produção cultural e artística por meio da fotografia, valorizando seus recursos humanos, conteúdos e seus criadores.
A arte se destaca como veículo de provocação para reflexões. Visando a conscientização para a importância da arte escultura por intermédio da mostra "Olha pra mim, a obra expográfica pensa a foto retratada como um espelho, onde vemos nosso reflexo e nos reconhecemos como o sujeito da história e, assim, faz com que cada espectador olhe para dentro de si e reflita como, então, teria sido a história da humanidade se pudéssemos olhar para o outro e criar uma empatia apenas pela expressão do olhar?
Thi Santos lançou o seu livro de retratos, "Olha pra mim", em 2021. A série epônima que deu origem à impressão traz seu caráter autoral e humano, no qual ele já retratou grandes nomes da vibrante cultura brasileira como Caetano Veloso, Elza Soares, Gilberto Gil , Preta Gil, Ivete Sangalo, Criolo, Astrid Fontenelle, Anitta, Jô Soares, Fafá de Belém, Luedj Luna, Liniker, Ney Matogrosso, entre outros. Tem vindo a criar universos completos e sensoriais incorporando grande valor com entregas de fotografia atemporais e que também promovendo reflexões e cultura. Atualmente ele encontra-se fazendo uma temporada de pesquisa de imagens de moda e comportamento, na Inglaterra/Londres-UK, onde está tendo oportunidade de ampliar ainda mais sua visão artística, acessando a cultura plural do mundo.
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"Minha formação foi moldada pela experiência da vida! Aprendi no set, trabalhando com diferentes clientes e profissionais que tive o privilégio de conhecer. Estudei até o terceiro período de Publicidade e Propaganda, mas acabei trancando. Depois, fiz dois períodos de Fotografia, mas também interrompi. Ou seja, não finalizei nenhuma graduação formal."
"Minha jornada começou cedo, ainda em Recife, fotografando modelos new faces das agências locais e criando editoriais de moda para revistas alternativas da época. O mercado de moda em Recife sempre foi bastante restrito e pequeno, então raramente gerava retorno financeiro. No entanto, sempre exercitei meu olhar fotográfico com as modelos, mesmo com recursos muito limitados. Vindo de uma realidade periférica, eu não tinha acesso a equipamentos próprios; a câmera que eu usava, por exemplo, era emprestada."
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"Hoje, acredito que tenho boas relações no setor, mas ainda não consegui me inserir completamente nas bolhas e nos círculos profissionais que dominam a indústria de moda no Brasil. Em 10 anos vivendo em São Paulo, construí um repertório sólido ao trabalhar com excelentes profissionais. Cada um me ensinou algo único, e essa diversidade de experiências foi fundamental para o meu crescimento. Sempre tive um olhar atento e multidisciplinar no set, o que me permitiu aprender com todos à minha volta. E continuo com essa postura de aprendizado até hoje."
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"Enfrentar os desafios da indústria exige coragem, terapia e uma disposição constante para continuar acreditando no meu potencial. Sinto-me mais preparado e consciente da minha entrega artística. Persistência, resiliência e coragem são fundamentais para encontrar forças e não desistir de mim mesmo. Afinal, se eu não fizer por mim, pela minha realização pessoal e artística, ninguém mais fará.
Posso listar inúmeros desafios, e sei que eles sempre existirão. No entanto, acredito que o maior deles é ser reconhecido como um profissional e artista que oferece excelência, independente do orçamento. Todos os dias, eu acordo e penso: "Olá, indústria, olá, profissionais que já realizam tanto: olhem para mim, vejam o meu talento, me deem uma oportunidade de mostrar que sou capaz."
"Um dos maiores desafios, sem dúvida, é ter pelo menos uma oportunidade de trabalhar em projetos com clientes ou equipes que proporcionem os recursos necessários para criar e desenvolver meu trabalho plenamente. E, claro, há uma longa lista de outras questões que poderiam ser mencionadas."
Tom Barreto
Tom Barreto é um fotógrafo e diretor de filmes de moda, natural de Taubaté, SP, e residente em São Paulo. Ele se destacou no mercado com diversas capas de revistas e em trabalhos com celebridades e Fashion Weeks pelo mundo. Tom também dirigiu campanhas, publicidades e entregas de celebridades para marcas de luxo como Dior, Fendi, Guerlain, Dolce & Gabbana, entre outras. Além disso, ele atua na moda nacional com marcas como Misci, Egho, Pace, Anacê, Crayons, entre outras.
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"Tenho formação em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra, que é equivalente a um curso geral de artes, com foco em cinema, teatro e música, mas com uma grade livre que permite inserir diversos tipos de matérias. Também tenho formação em Games pela SAGA. Ambos os cursos me proporcionaram uma base sólida para experimentação e estudo criativo, em ligação direta com a tecnologia.
Minha experiência no mercado criativo começou muito cedo. Sempre tive uma ligação com esse mundo. Aos 12 anos, já era moderador de um fórum com uma forte vertente de design, onde comecei a desenvolver meu olhar e estudo com Photoshop. Durante a adolescência, mantive blogs, vlogs e diversos tipos de conteúdo, sempre testando para descobrir o que realmente me interessava."
"Minha trajetória na fotografia começou em 2014, quando adquiri minha primeira câmera DSLR e comecei a fotografar os espetáculos de ballet na minha cidade natal. Desde então, o retrato de pessoas se tornou algo marcante e que sempre me chamou a atenção. Em 2015, comecei a me conectar com pessoas através de um grupo do Facebook chamado VSCO Brasil. Por meio desse grupo, conheci muitas pessoas de São Paulo e de todo o Brasil, com quem trabalho até hoje ou com quem mantenho contato no mercado."
"Minha entrada no mercado de moda de São Paulo foi facilitada pelo Instagram e pelas oportunidades que a plataforma me proporcionou e continua a proporcionar. E tem muita relação com a minha equipe que torna tudo isso possível, Vitor Tavares, Tallis Assi e Davi Tarricone que me fazem assistência de luz. Hadrien Raitani e Carlos Eduardo que ativamente editam e fazem retoque das minhas fotos. Samuel Marcondes e João Vieira que fazem minha edição de vídeo, acabam se tornando uma família de set que proporciona mais visões e apoio para todos os trabalhos."
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"Muitas vezes, nossos encontros acontecem de três maneiras diferentes: pela internet, frequentemente no Instagram; em eventos de moda, como desfiles, lançamentos e festas; ou no set, seja dividindo o espaço ou até mesmo nos corredores de grandes estúdios. A internet, especialmente as redes sociais, facilita a conexão com outros profissionais, permitindo a troca de ideias e a construção de uma rede de contatos sólida. Eventos de moda oferecem uma oportunidade única de networking em um ambiente dinâmico, onde posso encontrar colegas, conhecer novos talentos e discutir tendências emergentes."
"Adoro me relacionar com os profissionais do mercado e acho sempre prazerosa essa troca. Conversar com outros profissionais e compartilhar experiências é enriquecedor, tanto pessoal quanto profissionalmente. Acredito que temos muito a somar e agregar ouvindo e conversando com outras pessoas. Essa interação constante não só amplia meu conhecimento, mas também inspira novas ideias e colaborações. A troca de perspectivas e técnicas é essencial para a evolução no setor criativo, e valorizo cada oportunidade de aprender com meus pares e de contribuir com minha própria experiência."
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"Eu acredito que qualquer desafio na vida deve ser enfrentado da mesma maneira: com a cabeça no lugar e analisando o problema de forma racional, mesmo quando envolve aspectos pessoais e subjetivos. Sempre coloco ética e valores em primeiro lugar, para que a empatia prevaleça. É importante abordar os desafios com uma perspectiva equilibrada, considerando tanto os aspectos práticos quanto os emocionais.
Os desafios que enfrento estão frequentemente ligados a uma raiz sistêmica de um modelo capitalista, que coloca nosso trabalho sempre em um lugar de produção constante e, ao mesmo tempo, impõe restrições financeiras rigorosas. Esse ambiente pode ser estressante e exigir criatividade e resiliência para navegar. A pressão para produzir resultados de alta qualidade com orçamentos apertados é uma realidade constante."
"Portanto, não é uma crítica direta ao mercado em si, mas ao sistema econômico em que vivemos. Esse sistema muitas vezes valoriza mais a quantidade do que a qualidade, e pode desvalorizar o trabalho criativo ao reduzir orçamentos e prazos. Enfrentar esses desafios requer não apenas habilidade técnica e criatividade, mas também uma forte ética de trabalho e um compromisso com valores pessoais e profissionais.
Além disso, mantenho um foco constante em colaborar e construir redes de apoio dentro da indústria. Acredito que juntos, podemos encontrar maneiras de superar esses obstáculos e criar um ambiente mais sustentável e justo para todos os profissionais criativos."