Mais do que objetos, buscamos histórias incorporadas ao mobiliário, soluções que harmonizam estética e consciência.
A impermanência rege o mundo. Nada permanece inalterado, nem o tempo, nem o espaço que habitamos. O lar, reflexo de nossas transformações, deve acompanhar esse movimento, abraçando a mudança como potência criativa. Decorar não é apenas dispor móveis e objetos; é um exercício de identidade, uma construção simbólica que ressoa com quem somos e com quem desejamos ser. Assim, pensar o espaço doméstico exige não apenas gosto estético, mas consciência das transformações que virão.
O primeiro passo é a busca por um estilo próprio, a identificação daquilo que traduz nossa essência em formas, cores e texturas. É nesse processo que a escolha de cada peça se torna um gesto intencional, que transcende a funcionalidade e toca o campo da afetividade. Criar um ambiente coerente, onde cada elemento se encaixa em nossa narrativa pessoal, significa investir em escolhas que dialogam tanto com nossas necessidades práticas quanto com nossos desejos mais íntimos.
A qualidade dos materiais, a funcionalidade inteligente, o design refinado, a produção sustentável e a acessibilidade são princípios que devem nortear essa curadoria do espaço. Mais do que objetos, buscamos histórias incorporadas ao mobiliário, soluções que harmonizam estética e consciência. Foi com essa premissa que apresentamos uma seleção do melhor do design de mobiliário brasileiro – peças que carregam tradição, inovação e um olhar sensível para a construção de espaços que evoluem conosco.
Pedro Ávila transita entre arte e design, explorando a escultura como linguagem central de sua produção. Formado em Design Industrial pelo Senac e especializado pela Central Saint Martins, construiu um repertório técnico que sustenta sua investigação de formas e materiais. Suas coleções, como π, desafiam os limites da matéria ao combinar processos artesanais e digitais, criando peças que ressignificam a relação entre volume, proporção e textura.
Cadeira em U de Joaquim Tenreiro
Joaquim Tenreiro, pioneiro do design moderno no Brasil, traduziu a leveza tropical em mobiliários que combinam rigor técnico e formas orgânicas. Filho de marceneiros, transitou entre Portugal e Brasil até consolidar sua estética nos anos 1940, marcando o mobiliário com o uso refinado de madeiras nacionais. Ao abandonar o design nos anos 1960, migrou para a escultura, explorando relevos e treliças em madeira policromada, reafirmando sua síntese entre arte e funcionalidade.
Luminária de Mesa Sann de Hostins — Borges
Fundado em 2020 por Natan e Yuri, o estúdio HOSTINS-BORGES une design autoral e produção local para criar peças que dialogam com a materialidade e a interação. A luminária Sann, premiada no Latin American Design Awards, reflete essa abordagem ao transformar o ato de iluminação em uma experiência sensorial e envolvente.
Aparador Ondas de Arthur Casas
Arthur Casas, formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1983, é o fundador do Studio Arthur Casas, com escritórios em São Paulo e Nova York. Sua arquitetura, reconhecida internacionalmente, se destaca pelo diálogo entre racionalidade e formas peculiares, sempre com um compromisso ambiental. O Aparador Ondas, uma das suas criações, é uma peça que exalta curvas sinuosas, evocando o movimento do mar, em Nogueira Americana.
Poltrona Trama 23 de Humberto da Mata
Humberto da Mata, arquiteto brasiliense, descobriu sua paixão pelo design em 2011, após curso com os irmãos Campana na França. Em 2018, foi eleito Designer Revelação pela Casa Vogue e, hoje, comanda seu estúdio em São Paulo. A Trama 23, resultado de sua pesquisa sobre assentos tramados, reflete uma abordagem inovadora, com peças de estrutura metálica e tapeçaria criativa em tiras de espuma e tecido.
Poltrona Pilão da Misci
A Poltrona Pilão, fruto da colaboração entre Misci e Estúdio Orth, é um tributo ao Pilão, ícone das cozinhas brasileiras. Combinando design contemporâneo e ergonomia, sua estrutura em madeira maciça, metal fundido e couro exalta a qualidade dos materiais nacionais.
Cadeira Black de Philipe Fonseca
Philipe Fonseca, inspirado pela filosofia africana do "eu sou, porque nós somos", busca inserir a identidade negra e a ancestralidade em suas criações. Suas peças, como a cadeira Black, transcendem a estética para afirmar a resistência e cultura negra, homenageando o corte black power como símbolo de ativismo. Com materiais como metal, corda naval e linho, Fonseca traduz no design a luta pelo respeito e pela representatividade.
Poltrona Duna de Estúdio Mula Preta
Fundado em 2012 pelos potiguares André Gurgel, Felipe Bezerra e Uelinton Ribeiro, o Estúdio Mula Preta é reconhecido pela irreverência e pela busca constante por inovação, mantendo a autenticidade regional. A poltrona Duna, inspirada nas dunas de Natal, é uma síntese dessa identidade, com estrutura em Pinho Riga e acabamento em Carvalho. A peça conquistou prêmios como o A' Design Awards em Milão e o Chicago Athenaeum Good Design Award.
Luminária Memory de Jader Almeida
Jader Almeida iniciou sua trajetória no design aos 16 anos, explorando a manufatura do mobiliário antes mesmo de ingressar na arquitetura. Desde 2004, à frente da Sollos, consolidou sua identidade autoral ao equilibrar inovação industrial e precisão artesanal. Suas peças, como a luminária Memory, premiada internacionalmente, traduzem um desenho atemporal onde forma, função e matéria se integram com elegância.
Luminária de Mesa Mirage do Estúdio Carmine
O estúdio Carmine, fundado por Tiago Datti e Fernanda Maleski, une o design atemporal brasileiro com peças originais e de alta qualidade, produzidas manualmente do início ao fim. Com um legado familiar de marceneiros e luthiers, a luminária Mirage de mesa permite ajustar a intensidade da luz, criando uma interação poética entre luz e sombra na textura.