Fashion Revolution: Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

Confira a lista de Mulheres que nos inspiram nesse dia e veja seus trabalhos em uma Exposição Imersiva em Realidade Aumentada

Exposição Imersiva Online 3D & AR
por Complete Magazine & Fashion Revolution Brasil
Julho, 2025

Durante séculos, os talentos, histórias e criações de mulheres negras e indígenas latino-americanas e caribenhas foram silenciados, apagados ou exotizados por uma lógica colonial que ainda molda imaginários, economias e políticas culturais. No entanto, cada gesto de resistência dessas mulheres, seja nas tramas do cipó ou nos fios do turbante, nas palavras entoadas em línguas originárias ou na reinvenção de saberes diaspóricos, é uma afirmação radical de existência, memória e futuro. São elas que, apesar da violência estrutural que ameaça seus corpos e territórios, mantêm vivas as raízes mais profundas da nossa identidade continental.

A data de 25 de julho, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, é também uma convocação a reconhecer a força ancestral das mulheres indígenas que sustentam há milênios a diversidade cultural, espiritual e ecológica das Américas. É o dia em que a memória se torna presente para exigir reparação, visibilidade e justiça histórica, tanto às mais de 11 milhões de pessoas africanas escravizadas que forjaram com sangue e criatividade nossas culturas, quanto às milhares de nações indígenas que sobreviveram à colonização e segue ensinando que a Terra é viva e que outro mundo é possível.

No Brasil, país com a maior população negra fora da África e com mais de 300 povos indígenas, valorizar as obras, saberes e trajetórias dessas mulheres é um ato de reconstrução do país e de reencantamento do mundo. É preciso transformar a moda em território de denúncia, a arte em tecnologia ancestral e o turismo em vivência crítica e decolonial.

Veja a experiência em Realidade Aumentada da Exposição e conheça o trabalho de mulheres que prestigiamos no dia de hoje:

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Daiara Tukano

Obra: Kahtiri wi’i – casa da vida, 2023

A escolha de Daiara Tukano para a exposição parte do reconhecimento de sua trajetória como artista, ativista e comunicadora indígena que, a partir de uma estética enraizada nas cosmologias e nas lutas do povo Tukano, desafia as narrativas hegemônicas da arte e da moda ocidental. Sua obra carrega mensagens de memória, espiritualidade e resistência, traduzindo visualmente as dores, os saberes e os futuros possíveis de povos originários da Amazônia.

Carol Barreto

Obra: Modativismo – Quando a moda encontra a luta, 2024

Designer, pesquisadora, professora e ativista. Carol Barreto é uma das maiores referências em modativismo no Brasil, um conceito que une moda e ativismo social. Ela não apenas cria, mas também teoriza sobre a moda como ferramenta de transformação para questões de gênero, raça e sustentabilidade. Seu trabalho vai além das coleções, envolvendo projetos acadêmicos e comunitários que discutem a moda de forma crítica e propositiva.

Rosana Paulino

Obra: Diálogos do Dia e da Noite, 2025

Como artista vem se destacando por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero. Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão. Em Diálogos do Dia e da Noite, a artista apresenta uma série de novas pinturas, contextualizadas em ambientes noturnos, que desafiam as subjetividades históricas das mulheres negras.

Thais KoKama

Obra: Pintura corporal

A indicação da artista e documentarista Thaís Kokama se dá por sua potente e multifacetada atuação na salvaguarda e difusão da cultura de seu povo. Seus traços, feitos com a tinta sagrada do jenipapo, não são meros adornos, mas a escrita de uma história ancestral na própria pele. Cada grafismo é um elo visível que conecta o corpo à sua cosmologia, evocando proteção, identidade e o pertencimento ao povo Kokama. Esta prática transforma a pintura corporal em uma manifestação viva de espiritualidade e, como seu trabalho audiovisual sublinha, de resistência.

Seu trabalho transcende a arte e se torna um ato político, imortalizado em seu documentário "Traços da Resistência". Com essa obra, ela expande sua atuação para além da pele, registrando e narrando a luta pela memória e pelo território. Seja em oficinas pelo Brasil ou nas telas do cinema, Thaís semeia conhecimento, representando uma geração de artistas que refloresta a cultura para a eternidade. Sua arte, agora também cinematográfica, é um manifesto que demarca o espaço sagrado da identidade indígena, tornando-a uma voz indispensável para esta homenagem

Carina Desana

Obra: Mãe da Samaúma

A indicação de Carina Desana se dá por sua atuação vibrante como empreendedora, ativista e educadora, representando a nova geração de lideranças indígenas que movimentam e transformam cenários. Ela demonstra um impacto profundo ao fortalecer a identidade de seu povo, os Desana, por meio de ações que unem tradição e inovação. Além de criar ilustrações, Carina auxilia sua mãe, Ercilia Desana, a criar figurinos e acessórios, utilizando a moda como uma plataforma para celebrar a cultura, produzindo acessórios com materiais sustentáveis da Floresta Amazônica e usando as redes sociais para ampliar o alcance de sua arte.

Sua força não se limita ao empreendedorismo. Carina é também uma educadora que luta por uma narrativa que valorize os saberes locais e uma ativista da inclusão digital, criando pontes de conhecimento entre comunidades indígenas e não indígenas. Ao adotar seu nome tradicional, Horopakó ("mãe das flores"), ela personifica a beleza e a potência da retomada cultural, tornando-se uma voz inspiradora e essencial para uma homenagem que celebra a força da mulher indígena no Brasil.

Vanda Witoto

Vestido no linho. Leva grafismo que representa escamas de cobra, cujo significado é proteção e força.

A indicação de Vanda Witoto para esta homenagem justifica-se por sua atuação multifacetada e essencial na linha de frente da luta indígena. Seu trabalho como pedagoga e diretora do Instituto Witoto é um pilar para o fortalecimento e a sobrevivência de sua cultura. Vanda ganhou notoriedade internacional ao liderar ações humanitárias durante a pandemia. Atualmente, sua luta pela visibilidade se traduz de forma potente em seu trabalho como diretora criativa do Ateliê Derequine. Ali, ela transforma a moda em uma ferramenta de comunicação política e decolonial. Cada peça resgata grafismos e símbolos ancestrais, vestindo corpos com identidade, memória e a história de resiliência de um povo que por décadas ocultou suas origens. O ateliê é a materialização da força da mulher indígena e uma plataforma de ativismo, provando que a moda pode ser um território de retomada cultural e um grito contra o apagamento. Vanda personifica, assim, a intersecção entre a preservação ancestral e a vanguarda criativa, sendo uma voz indispensável para o nosso tempo.

Mônica Sampaio

Coleção “Maria Mariá” da Santa Resistência Primavera/Verão 2023

A escolha de Mônica Sampaio para compor a curadoria da celebração do Dia da Mulher Latina e Caribenha representa um gesto de afirmação política, estética e histórica. Engenheira eletricista de formação e estilista por paixão ancestral, Mônica resgata por meio da sua marca Santa Resistência o elo entre a moda afro-brasileira contemporânea e os saberes diaspóricos que atravessam séculos de resistência. Sua trajetória une ciência, arte e identidade de forma potente, revelando como o vestir pode ser também um gesto de memória e território. Criadora de roupas que funcionam como manifestos visuais, Mônica transforma tecidos em narrativas de pertencimento, espiritualidade e reinvenção. Seu trabalho pauta a moda como linguagem de celebração das mulheres negras, reverencia os legados do continente africano e inscreve o corpo como espaço de denúncia e beleza.

Ao optar pelo slow fashion, pela produção justa e por coleções inspiradas em figuras históricas como Elizabeth de Toro, a estilista conecta a arte do fazer com a política do existir. Integrante do projeto Sankofa e presente no SPFW, Mônica é símbolo de um fazer curatorial enraizado na coletividade, na justiça e na criação de futuros possíveis para as mulheres negras latino-caribenhas.

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