Forca Studio: Subversão de uma Estética Futurista

Criada por Silvio De Marchi e Vivi Rivaben, a marca nasceu da fusão entre percursos distintos: ela, com mais de dez anos de experiência no mercado fashion, transitando entre diferentes papéis criativos; ele, produtor musical e DJ reconhecido na noite paulistana, com um olhar forjado nas atmosferas sonoras e visuais das subculturas urbanas.

Moda // Other Side
por Sarah Rocksane Araújo
Setembro, 2025

Forca Studio já ocupa um espaço singular no cenário da moda paulistana. Criada por Silvio De Marchi e Vivi Rivaben, a marca nasceu da fusão entre percursos distintos: ela, com mais de dez anos de experiência no mercado fashion, transitando entre diferentes papéis criativos; ele, produtor musical e DJ reconhecido na noite paulistana, com um olhar forjado nas atmosferas sonoras e visuais das subculturas urbanas.

Essa junção resultou em um projeto estético que se anuncia, desde o nome, como manifesto. “Forca” não é aqui sentença de morte, mas potência de expressão. É apropriação simbólica de um lugar de condenação transformado em combustível criativo.No manifesto da marca, o inadequado e o não normativo não aparecem como falhas, mas como afirmações. O desejo é claro: criar roupas disruptivas que funcionem como dispositivos de empoderamento. Cada peça é pensada para transformar o corpo em superfície de narrativa. A moda é linguagem, mas também arma estética.

A leitura mais imediata de suas criações remete ao cyberpunk e ao steampunk, duas estéticas já consagradas pela ficção científica e pelas subculturas alternativas. Mas o que a Forca Studio faz é uma espécie de tradução latino-urbana dessas linguagens.

No cyberpunk original, o cenário é de cidades hiperindustrializadas, iluminadas por neon, controladas por megacorporações. No steampunk, é a retroficção vitoriana, dominada por engrenagens, vapor e ornamentos metálicos. Na Forca Studio, esses mundos se hibridizam, mas filtrados pelo calor das ruas paulistanas, pelo improviso das periferias, pela herança colonial que ainda marca o cotidiano latino. As peças revelam isso em suas formas: jaquetas que parecem armaduras contemporâneas, mas feitas para o corpo urbano; sobreposições que evocam engrenagens, mas em tecidos reaproveitados; detalhes metálicos que lembram ferragens de demolição, aplicados como ornamento. O futuro imaginado aqui não é o de Tóquio ou Londres, mas o de São Paulo e Cidade do México, onde precariedade e potência criativa se misturam em igual medida.

Essa leitura latino-urbana do cyberpunk e do steam não é apenas estética: é política. É afirmar que as distopias não são cenários distantes, mas realidades já vividas em países onde desigualdade, violência e invenção convivem diariamente.O processo criativo da dupla é colaborativo, mas não linear. “Às vezes criamos a mesma peça juntos; em outras, trabalhamos de forma independente e depois trocamos palpites”, explica Vivi. Essa dinâmica resulta em uma coleção de peças que parecem, ao mesmo tempo, pessoais e coletivas. A proposta inicial era modesta: uma cápsula de dez peças para circular entre amigos. Mas a recepção imediata atropelou os planos. O desejo de um círculo restrito tornou-se demanda pública, impulsionada pelo diálogo direto com a comunidade urbana que reconhece na Forca Studio uma estética de pertencimento.

Cada peça é pensada como dispositivo para circular em múltiplos contextos. Pode ser usada na rua, em uma festa, em um palco ou em um espaço institucional. Essa transição é fundamental: a moda da Forca Studio não está presa a um código único, mas sim ao hibridismo latino, feito de cruzamentos, improvisos e resistências.Se o cyberpunk falava de um futuro distópico e o steampunk de um passado reimaginado, a Forca Studio fala de um presente latino em ebulição. É nesse presente, entre concreto e precariedade, entre rebeldia e poesia, que a marca encontra sua força.

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