O artista recorre a tábuas comuns, adquiridas novas, que passam por processos intensos de transformação — cortes, carbonizações, colagens, sobreposições — até adquirirem uma aparência quase arqueológica. Para Drew, a matéria precisa atravessar um ciclo de vida: nascer, deteriorar, renascer.
A sala principal da South London Gallery, em Londres, se converte em um espaço de suspensão e impacto a partir da intervenção de Leonardo Drew. Reconhecido por explorar as tensões entre matéria, arquitetura e narrativa, o artista norte-americano ocupa o ambiente com uma instalação de escala monumental que parece capturar o instante exato de uma explosão. Feitas de madeira transformada em estúdio — escurecida, desmembrada e recomposta — as estruturas se acumulam em extremos opostos da galeria como vestígios congelados de um colapso iminente.
Criada especificamente para o espaço, a obra reflete a tensão entre ordem e caos, princípio recorrente na trajetória de Drew. Embora remeta a destroços, o que se vê não é encontrado: é construído. O artista recorre a tábuas comuns, adquiridas novas, que passam por processos intensos de transformação — cortes, carbonizações, colagens, sobreposições — até adquirirem uma aparência quase arqueológica. Para Drew, a matéria precisa atravessar um ciclo de vida: nascer, deteriorar, renascer.
O resultado é uma paisagem escultórica que mistura explosão e erosão, onde cada fragmento carrega histórias invisíveis. As duas estruturas centrais têm naturezas distintas: à esquerda da entrada, o que se vê é uma erupção congelada; à direita, uma espécie de montanha desabando lentamente. Ambas são organizadas a partir de uma lógica de ocupação espacial que respeita as proporções, entradas e respiros arquitetônicos da galeria — um gesto que reforça o diálogo entre obra e ambiente, tão importante na produção de Drew.
Desde os anos 1990, Leonardo Drew tem criado instalações que reorganizam memórias materiais. Seu trabalho já passou por instituições como The Metropolitan Museum of Art, The Studio Museum in Harlem e Guggenheim Bilbao, além de compor acervos de colecionadores como Linda Pace. Em sua prática, é possível identificar ecos de artistas como Louise Nevelson e Theaster Gates — mas sua assinatura está na recusa do equilíbrio e na celebração do colapso como linguagem.
A exposição permanece aberta até 7 de setembro de 2025 e reforça o potencial da arte como meio de tensionar espaço, tempo e matéria — sem a necessidade de movimento para causar impacto.