O Mundo Segundo as Cores, de James Fox chega ao Brasil

Na contramão dos manuais cromáticos e das paletas previsíveis, o historiador da arte James Fox convida o leitor a revisitar a cor com olhos inquietos e mente desarmada.

Design // The New Layout
Por Sarah Rocksane Araújo
Julho, 2025

O Mundo Segundo as Cores, seu mais recente livro, gira como um caleidoscópio teórico que embaralha verdades absolutas sobre os matizes que organizam nossas experiências. O verde, por exemplo, com toda sua aura de vida, natureza e regeneração é, na verdade, um reflexo, uma ilusão luminosa devolvida pelas folhas que se recusam a absorvê-la. Há um gesto quase poético no desconforto do artista David Nash, que hesitava em usar essa cor “orgânica demais” para caber numa tela. Fox parte dessas aparições para costurar um ensaio sobre como o significado da cor é sempre cultural, instável e político, mesmo quando parece natural.

Dividido em sete capítulos cromáticos, o livro percorre os bastidores científicos, filosóficos e históricos das cores, lançando luz sobre seus usos e abusos ao longo dos séculos. Fox, professor da Universidade de Cambridge, é direto ao propor um paradoxo central: sabemos o que é uma cor, mas raramente conseguimos explicar por que ela nos afeta tanto. O preto, por exemplo, ganha tratamento especial: ausente de luz, mas repleto de sentido, ele se manifesta nas togas dos romanos, nas telas japonesas e na resistência simbólica que habita seus contrastes. Para Fox, preto não é ausência, mas presença dialética, como um silêncio que ressoa mais alto que o som. Seu olhar atento transforma registros técnicos em pequenas crônicas visuais, das páginas de Shakespeare às telas pixeladas da primeira televisão “natural” no Japão dos anos 1960.

Mas nem tudo brilha no espectro de Fox. Se por um lado a obra ilumina com generosidade os bastidores cromáticos de civilizações e ideologias, por outro, tropeça nas próprias digressões. Reflexões como “o preto é a ovelha negra das cores” soam frágeis diante da densidade das análises anteriores, e os arcos narrativos por vezes se perdem em desvios pouco ancorados. A pergunta “Quantos significados uma cor pode ter antes de deixar de ter significado?” surge como provocação legítima, mas revela também o risco de relativizar em excesso aquilo que se propôs a revelar.

Ainda assim, O Mundo Segundo as Cores é leitura valiosa para designers, artistas, pensadores e curiosos, que encontrarão em suas páginas uma constelação de pistas para compreender por que, em um mundo saturado de tonalidades, ainda nos faltam palavras para descrever o impacto de uma simples cor.

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