Frank Herbert, criador do universo de Duna, assumiu essa inspiração. O litham, véu que protege contra areia e calor, é um exemplo claro de como elementos de sobrevivência no deserto se transformam em ícones de estilo no cinema.
Os Fremen de Duna não surgiram do nada. Sua força visual, véus, mantos, ornamentos e tatuagens, não é apenas fruto de invenção cinematográfica, mas herdeira direta da cultura de povos originários do Norte da África. A base estética que sustenta a identidade desses personagens vem dos Tuareg, um povo nômade pertencente à etnia Amazigh, cuja presença se estende por Mali, Níger, Argélia e Líbia.
Frank Herbert, criador do universo de Duna, assumiu essa inspiração. O litham, véu que protege contra areia e calor, é um exemplo claro de como elementos de sobrevivência no deserto se transformam em ícones de estilo no cinema. Para os Tuareg, é mais que um acessório: é uma tecnologia ancestral, construída ao longo de séculos, que une funcionalidade e significado cultural.
Nos figurinos de Duna, essa influência vai muito além do que se vê à primeira vista. Em Duna: Parte II, Lady Jessica ostenta tatuagens faciais quase idênticas às tradicionais usadas por mulheres Amazigh, símbolos que funcionam como amuletos de proteção e estão ligados à fertilidade e à espiritualidade. Não são meros adornos visuais, são narrativas inscritas na pele.
A joalheria também carrega esse diálogo. O adorno de cabeça da Princesa Irulan, embora derivado de um modelo Paco Rabanne FW2020, traz referências claras à ourivesaria e aos códigos simbólicos Amazigh. A adaptação mostra como a indústria da moda e do cinema absorve saberes tradicionais, mas também evidencia um dilema ético: quem se beneficia e quem permanece invisível?
E é aí que reside o ponto crucial. Quando a estética de povos originários é utilizada sem o devido crédito ou participação, corre-se o risco de esvaziar seu significado e perpetuar a invisibilidade histórica desses grupos. Reconhecer a origem não é um gesto opcional: é um ato político e de reparação cultural.
Duna prova que o impacto visual do cinema de ficção científica pode nascer do encontro entre o futuro imaginado e o passado ancestral. Mas também nos lembra que a preservação dessas culturas não se faz apenas na tela — exige valorização real, reconhecimento público e apoio às comunidades que mantêm vivas essas tradições.
O futuro da moda e do design não será construído apenas por novas tecnologias ou tendências de temporada, mas pelo respeito e pela integração consciente de linguagens visuais que sobreviveram a séculos de opressão. Porque cada dobra de tecido, cada traço de tatuagem e cada peça de joalheria carrega não só beleza, mas a história de um povo que resistiu, e que merece ser visto, ouvido e creditado.