O trabalho de arte vai se desenvolvendo junto a quem o faz, um desenvolve o outro. Você começa a pensar a partir dele do mesmo modo que ele começa a pensar a partir do que você acredita. Ele tem vida própria.
Graduado no Bacharelado em Fotografia do Centro Universitário Senac SP, Carlos Matos trabalha com diferentes práticas artísticas como a fotografia, o vídeo, a escultura e a instalação. Ele Investiga as relações pós coloniais atuantes no presente, as migrações contemporâneas e o imaginário delas resultantes traçando fronteiras entre suas investigações sobre as poéticas da luz, do espaço e da linha.
Conheça mais sobre o trabalho e trajetória do artista na entrevista abaixo.
CM: Nos conte um pouco sobre sua trajetória até aqui. Como você começou seu a desenvolver seu trabalho? Qual foi a motivação inicial por trás de seu trabalho artístico?
O trabalho de arte vai se desenvolvendo junto a quem o faz, um desenvolve o outro. Você começa a pensar a partir dele do mesmo modo que ele começa a pensar a partir do que você acredita. Ele tem vida própria. Eu comecei fotografando, e isso é um hábito que gosto muito mas que tá meio parado em mim; não sinto mais tanto tesão pelas imagens. Acho que a partir dessa falta de tesao, tentei e ainda tento, unificar o que mais gosto, que me agrada, no campo da imagem mas sem ir pra fotografia. Me interessa o espaço, retratos, como trazer visibilidade ao que não nos parece tão visível, sabe? Mas sem fotografar aquilo, trabalhar não só com as figuras mas também com o que elas representam e dizem por trás de uma visualidade primária.
CM: A partir da noção de tempo circular, como você enxerga o diálogo entre o seu trabalho e as novas tecnologias e métodos que surgiram nos últimos anos? Tecnologias como 3D, realidade aumentada e inteligência artificial estão presentes de alguma forma nas suas experimentações?
Eu acho muito foda essas novas tecnologias, elas por sí só mas também porque elas incentivam muito o imaginario. São ferramentas novas que podem dizer novas coisas por existirem em novos contextos e problemas do mundo. Tem aquele papo de que todos os assuntos já foram retratados né, o que muda é como são retratados. Eu concordo com essa afirmação. Dor, amor, alegria, depressão, tudo isso já é falado há centenas de anos. Mas os problemas do agora, que envolvem a tecnologia, FOMO, essas coisas, são assuntos novos e pedem novas ferramentas.Essas novas ferramentas não estão diretamente no meu trabalho e por hora não sei como elas poderiam satisfazer meus desejos, tenho que pensar melhor com elas; mas de qualquer forma, elas estão comigo porque representam uma nova possibilidade de retrato e isso é algo que me interessa muito.
CM: Você acredita que sua pesquisa contribui para criação de métodos que investigam uma nova “cartografia do sensível”?
A cartografia em si, o termo, já nos entrega algo certeiro, preciso, um mapa. Já pensou ter um mapa que não te leva a lugar nenhum? Não seria um mapa
Aí você tentar cartografar uma sensibilidade, é um exercício bem difícil porque um termo já nega o outro né. Tentar dar um ponto de contato entre essas duas coisas é algo muito complicado para um trabalho de arte, por isso que às vezes ele nos leva a lugares não muito certos. Não dá para o trabalho sempre seguir um mesmo caminho, porque ele não é um mapa, que te promete algo; daí que vem a sensibilidade, para embaralhar tudo. Acredito que meu trabalho ao mesmo tempo que informe, ele também confunde porque justamente ele habita esse lugar da cartografia sensível.