Uma marca que acredita que as trocas possibilitam conhecer mais profundamente a si mesmo e construir um espaço de mais empatia com o outro – a criação e a inspiração que surgem destes momentos em que algo ou alguma coisa é compartilhado. Talvez tenha sido isso que me conquistou quando conheci o trabalho dela pela primeira vez. Uma marca que, assim como o tempo, busca estar em constante movimento.
Conheci Raíssa de Britto através do Santiago Fernandes, um amigo que é irmão dela. Em nosso primeiro encontro, fiquei surpreso quando descobri que temos o mesmo signo e ascendente astral - quem me conhece sabe o quanto sou apaixonado por astrologia. Não demorou muito até que a conexão estivesse estabelecida. Em meados da pandemia, tive a honra de poder colaborar como modelo em um editorial que ela estava produzindo para sua marca, o Studio AR.
Formada em audiovisual com ênfase em Direção de Arte pela Academia Internacional de Cinema e bacharelado em Artes Visuais, Pintura, Gravura e Escultura pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, a artista já passou por diversas instituições culturais como Japan House e Instituto Contemporâneo de Arte de São Paulo. E não demorou muito até que Raíssa percebesse que sua trajetória profissional estaria muito mais alinhada com seu propósito se conseguisse exercitar em seu trabalho uma coisa que carrega dentro de si desde que se entende como pessoa: criatividade.
O Studio AR nasceu do trabalho autoral da artista multidisciplinar, buscando estar em constante movimento, criando a partir de diferentes suportes e materialidades. Raíssa acredita que o fazer artístico pode ser um disparador de ideias e trocas com o outro.
"O ponto de partida da marca está na troca e nas experiências que se criam a partir delas. A troca entre corpo e espaço. A troca com a materialidade que se trabalha. A troca com as pessoas que encontra durante o trajeto", pontua Raíssa.
Uma marca que acredita que as trocas possibilitam conhecer mais profundamente a si mesmo e construir um espaço de mais empatia com o outro – a criação e a inspiração que surgem destes momentos em que algo ou alguma coisa é compartilhado. Talvez tenha sido isso que me conquistou quando conheci o trabalho dela pela primeira vez. Uma marca que, assim como o tempo, busca estar em constante movimento.
A conexão de Raíssa com o barro é algo transcendental. Ela conta que já chegou a ficar de dez a doze horas em seu ateliê, presente, envolvida em contato com a matéria prima. A artista também ressalta que empreender dentro desse segmento nem sempre foi sua primeira ideia. Raissa diz que a dificuldade de um jovem empreendedor que quer desenvolver uma marca para conseguir viver de suas criações artísticas não é algo fácil, principalmente em um país como o Brasil onde arte (ainda) é considerada coisa de burguês. Hoje o Studio AR trabalha desenvolvendo produtos para home&decor como vasos, fruteiras, pratos, xícaras e até porta jóias em cerâmicas experimentais, que são vendidas no e-commerce da marca e em plataformas como a Boobam, além de seguir com uma agenda agitada de cursos para quem quer aprender mais sobre essa técnica milenar.
E pensando bem, não poderia existir outra forma para a artista conseguir representar isso se não a técnica de construção de peças em cerâmica "Eu sempre falo que a cerâmica me escolheu e não o contrário. Em todo tempo me entendi como uma pessoa artística e criativa, essa área sempre me despertou interesse. Infelizmente por ter crescido em uma cidade muito pequena, era estranho falar para as pessoas ao meu redor que gostaria de estudar artes e por isso no primeiro momento acabei optando por cursar cinema". E continua, "meu primeiro contato com a cerâmica foi durante o curso de Artes Visuais na Belas Artes. Somos apresentados a muitas linguagens artísticas diferentes em um curso como esse, então tive a oportunidade de experimentar e realizar trabalhos com diversas formas e materialidades até encontrar uma que se encaixasse perfeitamente".
Sobre o processo criativo e de produção das peças, Raíssa conta que sua maior inspiração vem dos elementos da natureza. "Sempre gostei de buscar formas, texturas e até entender a extensão do nosso corpo nesses espaços. Utilizamos muito de formas orgânicas em nosso trabalho, argila crua e sem esmalte para conseguirmos ter um diálogo criativo com coisas presentes nesse ambiente". Por outra ótica, a ceramista também conta que seu trabalho é uma balança entre fazer uma peça desenhada desde o início ou ir deixando o barro fluir durante horas para criar algo inusitado de acordo com os sentimentos que vão surgindo durante seu desenvolvimento. "Esse trabalho é uma grande experimentação e a cerâmica permite fazer isso, principalmente por ser imprevisível e variar de acordo com efeitos externos, como quantidade de esmalte ou de água e temperatura do forno. A partir do momento em que colocamos ela no fogo, perdemos o controle do que pode acontecer - e isso é o que mais me fascina - saber que quando retiramos a peça, encontraremos algo completamente singular" e finaliza dizendo que gosta até quando encontra rachaduras pequenas nas peças. "A argila me ensinou a desapegar desse perfeccionismo e entender que o perfeito não existe".
Recentemente, Raíssa decidiu se mudar para o Canadá com seu marido em busca de novas experiências pessoais e profissionais. Quando perguntei sobre qual seria o posicionamento da marca em termos de novas tecnologias, ela não hesitou em responder com um pouco de ironia que se preocupa em "como será o lugar da cerâmica no metaverso". Para ela, algo que conseguiu acompanhar a história da humanidade por tanto tempo como essa arte, com certeza irá conseguir encontrar um espaço no novo mundo tecnológico. E essa matéria sobre a marca na Complete Magazine é a prova disso.
Quando fiz o convite para Raíssa participar de uma entrevista para nossa seção de Criativos, onde contamos histórias de pessoas que estão desenvolvendo algo inovador e trabalhando pensando novas realidades, ela aceitou sem questionar. No momento em que mencionei que iríamos produzir um produto da marca com realidade aumentada para as pessoas poderem visualizar todo o trabalho incrível dela em sua própria casa, Raíssa ficou ainda mais feliz. O papel que a marca tem na vida das pessoas é essencial, principalmente quando pensamos historicamente em todo o percurso que a cerâmica passou para chegar até aqui.
"Eu acredito muito nas novas tecnologias e vejo a cerâmica até como um lugar de fuga do excesso delas, como um espaço onde as pessoas podem se reconectar com os processos naturais da própria vida, onde elas consigam voltar para o real. Por mais incrível que possa parecer, sinto que as pessoas procuram a cerâmica para relaxar, eu mesma tenho muitos alunos de TI, que passam grande parte do dia na frente do computador desenvolvendo programas e vão para os workshops que elaboramos para recarregar fazendo coisas manuais e criativas".
Entender as fases e processos da vida é essencial para conseguirmos aprender a dançar de acordo com a sinfonia. E isso é uma coisa que o Studio AR está conseguindo fazer da melhor forma - reinventar novas possibilidades de visualização e formatos para duas coisas ancestrais: o tempo e a cerâmica.