SPFW N60: Dario Mittmann

Com a coleção “MONOPOLY: YOUNG MONEY!”, o designer propõe uma crítica visual e conceitual ao capitalismo tardio e às estruturas de poder que moldam o imaginário da moda.

Moda // Other Side
por Sarah Rocksane Araújo
Outubro, 2025

Na 60ª edição da São Paulo Fashion Week, Dario Mittmann reafirma sua posição como uma das vozes mais inquietas da moda brasileira contemporânea. Com a coleção “MONOPOLY: YOUNG MONEY!”, o designer propõe uma crítica visual e conceitual ao capitalismo tardio e às estruturas de poder que moldam o imaginário da moda — transformando o jogo de tabuleiro Monopoly em um campo de batalha estético entre o “old money” e o “new money”. O resultado é uma passarela-cidade, um tabuleiro tridimensional onde o camp e a subversão pop se encontram para repensar o que significa “vencer” em um sistema de consumo saturado.

O desfile se estrutura como uma narrativa lúdica e provocativa. Trinta looks desfilam sobre um tabuleiro reconstruído como São Paulo imaginária, com casas nomeadas em português e projeções digitais que ampliam a imersão. A cenografia (ao mesmo tempo irônica e grandiosa) transforma o público em jogador. Cada modelo é uma peça em movimento, uma metáfora do sujeito contemporâneo entre a ambição e o excesso.

Camisas com gravatas da mesma textura, calças que fundem jeans e alfaiataria, cintos-gravata e bolsas que simulam black cards constroem um vestuário de ironia calculada. São roupas que questionam, com humor, as armadilhas da elegância tradicional. Tênis em forma de pantufas e elementos robóticos completam a equação, embaralhando os códigos do luxo e do conforto, da seriedade e do jogo.

Ao contrário da caricatura, Mittmann não ridiculariza o sistema, ele o performativiza. A coleção não é apenas moda: é uma reflexão sobre o desejo, a conquista e a circulação do capital simbólico. O jogo do vestir é o próprio jogo do poder.Dario combina impressão 3D, estamparia digital e bordados manuais, equilibrando a tecnologia com o toque humano. A colaboração com Repreve e Santista, que fornecem tecidos reciclados de garrafas PET, introduz um viés sustentável e experimental. O luxo, aqui, não está no brilho do metalizado, mas no conceito de reciclar símbolos e matérias.

IMAGENS PASSARELA 

Créditos: Gabriel Cappelletti/ Marcelo Soubhia / Marcelo Soubhia /Ze Takahashi @agfotosite

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