A tag #FashionTikTok, que reúne conteúdos variados sobre moda dentro da plataforma, conta com mais de 50 bilhões de visualizações nos vídeos que vão desde look do dia até resenhas sobre as coleções das últimas semanas de moda pelo mundo. Sabemos que a moda vai muito além da roupa, portanto, todo esse acesso a informação de moda pode ser enxergado como uma democratização de um nicho até hoje extremamente elitizado, sempre com cautela para não cair em discursos falsos, mas não podemos deixar de ressaltar que nunca foi tão fácil consumir informações sobre moda como hoje em dia.
Não é segredo e nem mistério que, atualmente, as mídias sociais vêm acelerando diversos processos, seja no âmbito da comunicação, compras, finanças, entretenimento entre outros. Tudo é instantâneo e temos sempre à disposição a informação ou produto que desejamos. Estamos cansados de ouvir falar sobre como tudo é muito rápido hoje em dia, mesmo que esse lembrete seja válido para ficarmos atentos aos malefícios que existem junto das vantagens da internet. Tudo parecia já ser o mais rápido possível, quando no começo da pandemia, vivenciamos a explosão de usuários no TikTok e sentimos os primeiros sintomas da tal “rede vizinha” que se estabelecia para transformar o mercado não apenas ditando o que iríamos comprar, mas também o que passaríamos a desejar. Diversos segmentos passaram a entrar na onda dos short videos e com a indústria da moda não foi diferente.
A tag #FashionTikTok, que reúne conteúdos variados sobre moda dentro da plataforma, conta com mais de 50 bilhões de visualizações nos vídeos que vão desde look do dia até resenhas sobre as coleções das últimas semanas de moda pelo mundo. Sabemos que a moda vai muito além da roupa, portanto, todo esse acesso a informação de moda pode ser enxergado como uma democratização de um nicho até hoje extremamente elitizado, sempre com cautela para não cair em discursos falsos, mas não podemos deixar de ressaltar que nunca foi tão fácil consumir informações sobre moda como hoje em dia. Toda essa visibilidade se transforma em oportunidade para marcas realizarem suas campanhas de marketing de influência dentro de uma plataforma com o algoritmo aliado aos criadores, criando reconhecimento para novas marcas e aumento significativo de receita para marcas já estabelecidas no mercado.
São inúmeras as possibilidades que as redes trouxeram para a moda, mas também houveram obstáculos criados por esse “novo”.
Antes da revolução digital, as tendências eram ditadas pelas grandes casas de moda do norte global ao apresentarem suas coleções sazonais nas principais semanas de moda do mundo. Celebridades e outros membros da elite acompanhavam as novidades, vestiam as peças com cores, modelagem e estética que seriam reproduzidos mais tarde por lojas de departamento direcionando para o grande público de consumidores, que até então se educavam sobre moda apenas por meio de revistas.
Com a velocidade em que as trends do TikTok viralizaram, as tendências que já não eram mais tão sazonais como antes, passaram a ir e vir de maneira absurdamente rápida. Se já estávamos familiarizados com as fast-fashion, fomos apresentados ao ultra-fast-fashion como a gigante chinesa Shein. A empresa atrai consumidores na mesma potência que atrai polêmicas, divide opiniões e aumenta seus lucros. Um fator positivo desse tipo de negócio é a diversidade de tamanhos que seus produtos proporcionam, sendo um exemplo de inclusão de corpos excluídos pela indústria há tempos. Outro fator mencionado como atrativo pelo público são os preços baixos, mas que também geram dúvidas acerca da origem da mão de obra. Mas o recorte que gostaria de focar é sobre como o conceito de ultra-fast-fashion distorce ainda mais uma cultura do consumo longe do saudável e o papel das redes, especialmente o TikTok, como instrumento para tal.
Um oceano de informações são adquiridas ao rolar o feed do TikTok que nos oferece conteúdos personalizados e publicidades estranhamente certeiras. Nos deparamos com conteúdos de moda que passeiam por diversos estilos, vanguardas e cores. Praticamente todo dia a moda muda no TikTok, e quando o que desejamos muda tão rápido, nosso consumo é naturalmente acelerado. Empresas como a Shein buscam em plataformas como a queridinha da ByteDance inspirações - certas vezes cópias - do que os criadores de moda estão usando para que possam ser criados (?) novos produtos em uma velocidade ainda mais impressionante - e preocupante - do que as já tradicionais fast-fashion. É preciso estar atento para que nosso desejo pela moda não se transforme em um consumo exagerado de roupas que em pouco tempo não farão mais sentido no armário, pois o desejo rapidamente será outro. Vivemos uma era onde ao passo que surge o conceito ultra-fast-fashion nunca tivemos tanto acesso a pautas como moda circular e upcycling. Esse paradoxo acontece pois o sistema capitalista, obcecado pelo lucro acima de tudo, está longe de educar o nosso consumo.
O mundo, a moda e o consumo mudam constantemente e um influencia na transformação do outro. Se a moda é a expressão e identidade da sociedade, é preciso reestruturar hábitos e pensar fora do sistema mesmo que ainda estejamos inseridos nele. A sustentabilidade é praticada em diversas frentes e quantidades de roupas sem necessidades e consciência se transforma em lixo descartado incorretamente. Não entro no mérito de toneladas de lixo têxtil por parte de grandes confecções pois fugiria do recorte aqui, mas não isolo o impacto e culpa desses.
A reflexão que trago é que precisamos nos atentar e nos educar mais sobre onde consumimos, como consumimos e por quê consumimos um produto, uma marca e em que quantidade e espaço de tempo iremos comprar. A moda sempre vai mudar e estaremos aqui acompanhando suas transformações, mas precisamos nos olhar como consumidores responsáveis financeiramente e socialmente. Tudo tem um preço, alto ou baixo, para nós e para o planeta em que vivemos.
Escrito por Francisco Andolfato @franciscoandolfatoUma geminiana apaixonada por poesia, que encontrou voz e caminhos na comunicação.De muitas escolhas, torna-se agora jornalista, poeta e humanista.
Formada em Comunicação Social - Jornalismo, bolsista pelo Prouni na FIAM FAAM FMUCampus Liberdade, natural da periferia do extremo sul da cidade de São Paulo, atua como repórter e modelo. Experiência como revisora, pauteira, redatora e agora social media com criação de conteúdo de marca.
franciscoandolfato99@gmail.com