Exposição que mescla artes visuais, design e arquitetura, ocupa pela primeira vez duas casas brutalistas da década de 1970
A partir de agosto, a mostra Aberto3 retorna a São Paulo para sua terceira edição. Inaugurada originalmente na residência remanescente do arquiteto Oscar Niemeyer em São Paulo, e em sua segunda edição em uma casa projetada por Villanova Artigas, figura central da Escola Paulista de Arquitetura, a exposição deste ano será realizada em dois espaços distintos.
O evento de 2024 presta homenagem ao legado artístico e arquitetônico de duas notáveis mulheres asiático-brasileiras, cujas residências brutalistas dos anos 1970 serão o palco. Mais que simples moradias, esses locais simbolizam a perpetuação da criatividade, do espírito e da memória dessas mulheres para as futuras gerações. Um dos espaços é a casa projetada pelo arquiteto brasileiro Ruy Ohtake para sua mãe, Tomie Ohtake, uma artista de origem japonesa nascida em Kyoto. O outro é a residência projetada por Chu Ming Silveira, arquiteta e designer nascida em Xangai, China, e criadora do icônico "orelhão", um dos grandes símbolos do mobiliário urbano brasileiro.
As casas servem de pano de fundo para exibições de arte e design, cuidadosamente selecionadas pelo trio de curadores Filipe Assis, Kiki Mazzucchelli e Claudia Moreira Salles em resposta ao ambiente arquitetônico; elementos como concreto aparente e linhas orgânicas serão perfeitamente integrados para aprimorar a experiência artística geral. “Estamos empolgados em revelar as histórias notáveis dessas mulheres extraordinárias e seu profundo impacto na arte, arquitetura e design brasileiros. A mostra não apenas celebra suas contribuições artísticas e arquitetônicas, mas também suas perspectivas imigrantes que moldaram o movimento modernista brasileiro “, explica Filipe Assis, empreendedor de arte e fundador da ABERTO em 2022.
A curadoria de arte da mostra destaca obras de arte moderna e contemporânea, tanto brasileiras quanto internacionais, por meio de colaborações com galerias como Fortes D'Aloia & Gabriel, Mendes Wood DM, Luisa Strina e Nara Roesler. Paralelamente, a curadoria de design, liderada por Claudia Moreira Salles, apresentará novas peças de mobiliário projetadas pelas famílias Ohtake e Chu, especialmente editadas para o evento pela Galeria ETEL, sob a direção de Lissa Carmona.
“Essas casas oferecem uma intimidade inesperada, inspirada em designs orientais com tetos baixos que aumentam o envolvimento com a arte, promovendo a contemplação e a interação. Nossa curadoria usa cuidadosamente elementos arquitetônicos - aberturas, ângulos e luz natural - para colocar obras de arte, transformando cada casa em uma tela que combina forma e função para uma experiência imersiva além dos padrões típicos de exposição", explica a curadora Claudia Moreira Salles.
A residência de Chu Ming Silveira, projetada no início dos anos 1970 e localizada no Real Parque, São Paulo, destaca-se pela inovadora estrutura de concreto e vidro. Projetada para promover a convivência e priorizar a funcionalidade, a casa abrigará uma seleção de obras de arte modernas e históricas, incluindo trabalhos de Wanda Pimentel, Abraham Palatnik, Anna Maria Maiolino, Kishio Suga, Lucio Fontana, Maria Martins, e Sheila Hicks. Além disso, a galeria internacional Lisson cedeu obras, com destaque para uma sala dedicada à artista Carmen Herrera e fotografias da série Opticks, de Hiroshi Sugimoto. Durante a mostra Aberto3, Alan Chu, filho mais novo de Chu Ming, celebra o legado de sua mãe apresentando mobiliário de sua autoria e interpretações dos projetos originais de Chu.
Simultaneamente, a casa-ateliê de Tomie Ohtake, localizada em Campo Belo, apresenta uma exposição organizada por Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Ohtake. A mostra inclui objetos pessoais, materiais de arquivo e obras de arte, homenageando a rica trajetória da artista.
A Aberto3 convidou artistas brasileiros contemporâneos para criar obras inspiradas no estilo arquitetônico de Ruy Ohtake e nas histórias da família que viveu na casa-ateliê de Tomie Ohtake. Fabio Miguez produziu uma grande pintura dialogando com o espaço da casa, enquanto Daniel Senise, Fernanda Galvão, Laura Vinci e Arthur Lescher apresentam peças específicas para o local. Sandra Cinto traz pinturas com referências japonesas, e Maria Klabin criou retratos de Tomie e Chu Ming. Outros artistas como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Luiz Roque também apresentam trabalhos exclusivos. O espaço contará ainda com obras da artista Torkwase Dyson, que explora a geografia humana e estratégias de libertação espacial, e esculturas inéditas de Arlene Shechet, atualmente em exposição no Storm King Art Center, Nova York.
Rodrigo Ohtake, neto de Tomie, também apresentará uma edição especial limitada de peças de design editadas pela Galeria ETEL. Essa coleção contará com duas peças de Ruy Ohtake e duas criações originais do próprio Rodrigo.
Fundada por Filipe Assis, a Aberto é uma plataforma de exposição que celebra a arte e o design brasileiros dentro de casas e marcos modernistas icônicos, todos projetados por eminentes arquitetos brasileiros. “O conceito da Aberto”, afirma Filipe, “tem raízes na Semana de Arte Moderna de 1922, um movimento fundamental que reuniu artistas, arquitetos e escritores e estabeleceu as bases para a intersecção criativa entre as disciplinas. Esse evento inspirou nossa exploração contínua do modernismo brasileiro e sua relevância na cultura contemporânea, onde a arte, design e arquitetura moderna se unem”, ressalta o idealizador da plataforma.
A terceira edição da Aberto3 acontecerá entre os dias 11 de agosto a 15 de setembro, com ingressos de R$80,00 a R$30,00, disponíveis em aberto.art/pt-BR
