O legado para o biodesign regenerativo de Luigi Colani

Considerado um dos grandes iconoclastas do século 20, Colani construiu uma trajetória marcada pela recusa dos paradigmas modernos, pela devoção à natureza como fonte formal e estrutural, e pela obstinada crença em um futuro utópico moldado por formas orgânicas.

Design // The New Layout
Por Gilles Pedroza Leite
Setembro, 2025

Poucos nomes na história do design industrial evocam uma visão tão radical quanto a de Luigi Colani (1928–2019). Considerado um dos grandes iconoclastas do século 20, Colani construiu uma trajetória marcada pela recusa dos paradigmas modernos, pela devoção à natureza como fonte formal e estrutural, e pela obstinada crença em um futuro utópico moldado por formas orgânicas.

Para ele, design era mais do que função: era biologia aplicada, escultura aerodinâmica, provocação estética. Autodeclarado apóstolo do “biodesign”, Colani enxergava na natureza soluções superiores às da engenharia humana. Aranhas, peixes, conchas e asas de pássaros eram seus manuais de projeto. “90% natureza + 10% Colani”, gostava de dizer, sintetizando sua abordagem que aliava observação científica e intuição escultórica. As linhas curvas e fluidas de seus carros, aviões, utensílios e até megacidades antecipavam debates contemporâneos sobre design paramétrico e biomimética, décadas antes da popularização do termo.

Com formação inicial em escultura e aerodinâmica, Colani começou sua carreira em Paris, desenhando veículos conceituais no cenário pós-guerra. Mais tarde, montou seu estúdio em um castelo na Alemanha, onde liderava um pequeno ateliê de experimentação em fibra de vidro — longe do circuito comercial e das pressões do mercado. Em vez de responder a briefs corporativos, desenvolvia séries paralelas de projetos que muitas vezes não se materializavam, mas serviam como plataformas para pensar outro mundo possível. Sua obsessão por formas sensuais, frequentemente inspiradas na anatomia marinha ou em alusões sexuais, o distanciou do design funcionalista e racionalista dominante nas décadas de 1950 e 60.

Enquanto o modernismo erguia ângulos retos e fachadas de vidro, Colani propunha volumes arredondados, aerodinâmicos, quase alucinógenos. E criticava o legado da Bauhaus por ter deixado para trás o círculo, a cor e o dinamismo que compunham a essência do manifesto original de Walter Gropius.Apesar de sua posição à margem, alguns de seus projetos foram comercializados, como a câmera Canon T90 ou os fones Cobra. Outros, como seus caminhões escultóricos, cidades-modulares e aeronaves supersônicas, permaneceram em protótipos ou colagens visionárias.

Luigi Colani acreditava que a curva era a forma mais bela e eficiente do universo e fez dela sua assinatura estética. Em um tempo em que os algoritmos moldam o design, sua obra ressurge como um manifesto antecipado da organicidade tecnológica. Mais do que um designer, Colani foi um sonhador do tridimensional. Um artista que, em cada linha desenhada, buscava reencontrar a

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