Empreendedorismo à favor da vida e regeneração da terra

Nathalia Nasralla, empreendedora, artista, produtora cultural e idealizadora da Aduba Arte é grande exemplo de como um simples passo diferente na caminhada, pode abrir espaço para uma nova trilha repleta de surpresas.

Inovação // To the Future
Por Caíque Nucci
Setembro, 2023

No meio da pandemia, a empreendedora decidiu se desvincular do mercado da moda, onde desenvolvia a Castly - uma startup que facilitava a busca e a intermediação de profissionais do meio artístico - para viajar pelo Brasil. De norte a sul, ela encontrou no contato mais íntimo com a natureza, reflexões inquietantes sobre a vida, o propósito de empreender e a necessidade de transformação humana e resgate ancestral.

Palavras da vez: sustentabilidade e economia regenerativa se tornaram tópicos principais em desenvolvimentos de empresas e rodas sociais. Mas qual o verdadeiro ponto de mutação onde elas deixam de ser teoria e se tornam ação? Quando paramos para nos aprofundar um pouco mais nesses termos, começamos a entender na prática como tudo que existe se conecta nessa grande trama da vida. A economia regenerativa é uma abordagem que busca criar sistemas econômicos que restauram e fortalecem os recursos naturais e sociais.

Ao contrário do modelo econômico convencional, que tende a extrair recursos de forma insustentável e criar externalidades negativas, a economia regenerativa busca criar sistemas que funcionem em harmonia com os ciclos naturais e gerem benefícios para a sociedade como um todo.

Nathalia Nasralla, empreendedora, artista, produtora cultural e idealizadora da Aduba Arte é grande exemplo de como um simples passo diferente na caminhada, pode abrir espaço para uma nova trilha repleta de surpresas. No meio da pandemia, a empreendedora decidiu se desvincular do mercado da moda, onde desenvolvia a Castly - uma startup que facilitava a busca e a intermediação de profissionais do meio artístico -  para viajar pelo Brasil. De norte a sul, ela encontrou no contato mais íntimo com a natureza, reflexões inquietantes sobre a vida, o propósito de empreender e a necessidade de transformação humana e resgate ancestral.

Nos conte um pouco sobre sua trajetória. Quem é você e como chegou até aqui?

Sou filha de mãe viúva, dona Cibele, e criada por uma rede de mulheres: minha madrinha Katia, minha avó Alzira, minha tia Adriana. Meus avós maternos são imigrantes árabes. Pela parte do meu pai, há uma mistura de alemães com Guarani. Dessa árvore, vem eu - múltipla em minhas influências e assim também, nos meus interesses. Comecei a trabalhar muito cedo e por isso, fui muito influenciada pela minha mãe a estudar e trabalhar com moda. Parte do meu amadurecimento aflorou meus interesses pela ecologia, antropologia, cultura, arte e educação. Hoje, meu foco de pesquisa é justamente como aproximar o diálogo entre arte e educação, investigando como ela pode ser uma ferramenta poderosa de sensibilização de despertar individual e coletivo para práticas regenerativas sociais e ambientais.

O empreendedorismo social não é algo novo para você, pode contar como atuava nele na sua antiga empresa, a Castly?

Trabalhei como modelo durante algum tempo e senti na pele padrões colonizadores, exploratórios, machistas e antidemocráticos sendo reproduzidos dentro desse mercado. Muitas vezes me senti extremamente desconfortável, e quando questionava, percebi que esse mercado ainda estava muito protegido e maquiado pela penumbra estética e pela beleza. Faltava coesão.Em resposta a tudo isso, em 2016 fiz parte da co-criação de uma start-up que facilitava a busca e a intermediação de profissionais do meio artístico, a Castly. Na Castly, para mim, o fator primordial era a humanização da mão de obra dentro do mercado artístico e publicitário. Oferecendo oportunidades mais justas para os profissionais, com menos taxas abusivas e um tratamento mais digno.


Como aconteceu a mudança da Moda para trabalhar como sustentabilidade e Economia Regenerativa?

O destino tinha outros planos para mim, e então antes da pandemia me desvinculei do mercado da moda e fui viajar pelo Brasil. Esse foi um momento de transformação para mim, de extrema reconexão comigo e com a Natureza, com a minha espiritualidade, povos e ecossistemas que vivem em harmonia com a Terra. Essas vivências me inspiraram a pensar a Ecologia de uma maneira mais profunda, a partir do autoconhecimento, das relações, e do potencial transformador que tem na construção de comunidades saudáveis.


O que você enxerga como principal ponto de mutação para nova geração em termos de tecnologia conectada ao resgate ancestral?

Precisamos primeiro entender que nossos ancestrais já usavam tecnologias extremamente sofisticadas para a criação de tudo que vemos e vivemos hoje. Tecnologia significa tekne (“arte, técnica ou ofício”) e por logos (“conjunto de saberes”). É utilizado para definir os conhecimentos que permitem fabricar objetos e modificar o meio ambiente, com vista a satisfazer as necessidades humanas, e isso não se restringe a equipamentos eletrônicos. A Natureza por si é a tecnologia mais inteligente que há disponível para nós hoje, nossos ancestrais já sabiam disso e usavam disso ao seu favor e a favor do coletivo, seja na arquitetura, medicina, etc. Todo ecossistema era considerado.A biomimética é um termo que está em alta agora no meio da sustentabilidade e regeneração, justamente por ser esse estudo de criações a partir de seres e sistemas naturais, para que nos inspire a criar soluções que se integrem a Natureza sem que cause desperdícios, poluição, e etc.Acredito que precisamos ser humildes o suficiente para cultivar a desaprendizagem , para assim darmos boas vindas a reinvenção.Se nos permitirmos a (re)aprender, a nos inspirar na fonte natural para repensar, seremos capazes de redesenhar um futuro, onde tudo será pensado em harmonia contemplando toda a grande teia da vida que nos conecta.


Como podemos transformar e quais seriam as atitudes principais para construirmos no hoje a mudança que queremos ver amanhã?

Fazendo uma ligação com a pergunta anterior, acredito que primeiramente precisamos considerar o nosso corpo como a maior e mais potente de todas as tecnologias disponíveis. É através dele que somos capazes de sentir, e consequentemente nos conectar e criar empatia com as dores e os sonhos coletivos da Terra. Acredito que somente depois dessa reconexão profunda, que leva ao caminho do autoconhecimento, podemos compreender qual o nosso papel como agente transformador nesse coletivo. A transformação pessoal inspira a transformação coletiva. Para mim, não existe um manual, mas felizmente, temos todas as ferramentas disponíveis para que essa investigação seja feita com profundidade e ao mesmo tempo, leveza.

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