Lygia Clark, uma das maiores artistas brasileiras do século 20, tem exposição de seu trabalho feita na Pinacoteca de São Paulo, reafirmando o marco da importância de seu trabalho através do tempo.
Nascida em outubro de 1920, em Minas Gerais, Lygia Clark começou seu trabalho com pinturas, explorando as inimagináveis camadas possíveis no campo experimental. Em 1947, já casada e com três filhos, mudou-se para o Rio de Janeiro e iniciou-se na arte da pintura sob a orientação do artista plástico Burle Marx. Conhecida principalmente por sua habilidade de instigar o espectador de sua arte, Lygia abdicou do rótulo de artista, exigindo ser chamada de “propositora”.
Entre 1954 e 1957 desenvolveu uma pintura construtivista, com o uso da cor branca e preta, com tinta industrial. Resultando assim, em uma mudança na natureza e no sentido dos quadros, estendendo a cor até à moldura, e anulando-a ou até mesmo trazendo ela para dentro do quadro. É o que Lygia denominou de “Linha Orgânica”.
Sua revolução não parou por aí. Sendo uma das pioneiras no desenvolvimento da abstração geométrica no Brasil, a artista criou a série “Bicho”, um conjunto de esculturas metálicas geométricas que se articulavam por meio de dobradiças, onde buscava a participação do público. Neste ponto, Lygia entendeu que a arte poderia ser uma ferramenta para reflexão do indivíduo e do coletivo, impactando assim gerações que estariam por vir a presenciar seu trabalho. O resultado: o público como ator e parte da obra.
A atualização mais recente sobre seu trabalho é uma exposição na Pinacoteca de São Paulo. Com o título "Lygia Clark: Projeto para um Planeta", a mostra sobre a artista e escultora contemporânea apresenta todo o seu repertório, curada por Ana Maria Maia e Pollyana Quintella e ocupando todas as sete salas de um dos casarões mais antigos da cidade.
Todas as fases do trabalho de Lygia se encontram pelos corredores do local. Desde suas pesquisas iniciais em pinturas figurativas, passando pela linguagem da pintura enquanto superfície no espaço, até o ponto de virada desta investigação, com a obra “Descoberta da linha orgânica” (1954), onde Clark parou de adicionar uma moldura como um elemento extra à tela, e passou a integrá-la à composição. E em seu ápice, onde Lygia passou a refletir sobre as relações entre “dentro” e “fora” de suas composições, bem como a interação entre “corpo” e “espaço”, quando propõe “Maquete para interior nº 3” (1955).
É possível vivenciar tudo isso e mais um pouco na exposição completa da artista que acontece no Edifício Pina Luz, na Praça da Luz, até 04/08/2024. O legado da artista se mantém vivo - e seu renascimento já está acontecendo.