SPFW N60: Forca Studio apresenta Helyx

A marca, criada por Silvio De Marchi e Vivi Rivaben, mantém seu espírito underground, mas projeta-se agora para um campo mais amplo, assumindo a transição de projeto independente para estrutura de varejo, com entrada no calendário de atacado e lançamento oficial de sua linha sob medida, antes restrita a artistas e insiders.

Moda // Other Side
por Sarah Rocksane Araújo
Outubro, 2025

A Forca Studio, conhecida por sua estética e narrativa de insubmissão, entra em uma nova era com o lançamento da coleção Hely , apresentada no Campo de Marte durante a SPFW N60. O local escolhido (uma pista de aviação) já antecipa o conceito central da coleção: levantar voo. Não apenas no sentido literal, mas como metáfora de crescimento estratégico, expansão de linguagem e aceleração estética.

A marca, criada por Silvio De Marchi e Vivi Rivaben, mantém seu espírito underground, mas projeta-se agora para um campo mais amplo, assumindo a transição de projeto independente para estrutura de varejo, com entrada no calendário de atacado e lançamento oficial de sua linha sob medida, antes restrita a artistas e insiders. Esse movimento marca um ponto de inflexão: a Forca deixa de ser apenas estética e aspiracional para se posicionar como força comercial com identidade autoral intacta.

A estética da coleção Helyx dialoga com o imaginário futurista, mas não com o futurismo higienizado das passarelas internacionais, e sim com um futurismo tecno-espacial de DNA latino, marcado por tensão entre precariedade e ambição, entre ferrugem e brilho. O nome da coleção evoca a hélice, mecanismo de impulso aéreo, e traduz visualmente a ideia de movimento, aerodinâmica e aceleração.

A cartela de cores reflete esse duplo impulso: tons claros e técnicos como off-white, gelo e verde oliva convivem com cores intensas e densas como vermelho queimado e marrom-oxidado, como se os looks carregassem a memória metálica do atrito. A marca abandona o preto total e se abre para uma paleta que sugere calor, fricção e atmosfera sideral. 

Os materiais escolhidos reforçam a interlocução com o tecno-esportivo e o industrial especulativo: tecidos emborrachados, couro polido, chiffon que remete à leveza da suspensão aérea, jacquard e faux fur usados como dispositivos de contraste tático-sensorial. 

Créditos: Ze Takahashi / Marcelo Soubhia / @agfotosite

O destaque vai para um tecido exclusivo de viscose com acabamento em borracha e textura amassada, que cria um efeito de superfície desgastada, como se a roupa já tivesse atravessado atmosferas.

As peças em látex, fruto de uma colaboração com Cece, inserem o corpo em um território entre proteção e exposição, como um híbrido entre traje de piloto e pele biotecnológica. No dia seguinte ao desfile, acontece a abertura do atendimento custom made para o público geral consolidam a nova fase da marca.

Ao contrário das estéticas futuristas importadas, que imaginam o amanhã a partir de uma limpeza tecnológica idealizada, a Forca propõe um futuro com ferrugem, com superfícies tensionadas, com corpos que se projetam para frente sem negar suas origens urbanas e latino-desobedientes. Helyx projeta uma moda que habita tanto a pista de pouso quanto o ambiente de rua, tanto o subsolo dos clubes quanto a claridade agressiva do concreto paulistano.

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