A partir do momento que se entende a maconha como uma questão de saúde e política pública, fica nítido que a visão popular da cannabis está associada ao fundamentalismo religioso e ao racismo, uma vez que, no passado, a maconha tinha seu uso associado a escravizados.Ou seja, construíram a imagem do consumidor à nocividade.
Nos dias 15, 16 e 17 de setembro de 2023, ocorreu na Expo São Paulo a Primeira Edição da ExpoCannabis, aqui no Brasil, algo tão emergente aqui no país quando estamos em tempos de votação para descriminalização do porte da maconha e a liberação do uso da cannabis medicinal.
Você sabia que o mercado da Cannabis é um mercado que está crescendo cada vez mais, gerando lucro e desenvolvimento científico? Bom, eu não sabia.
Tive a oportunidade de participar do evento como promotora no stand da Hemp Vegan, uma marca vegana que pretende ganhar mais espaço no mercado nacional fundada pela primeira 1º Biomédica prescritora de cannabis medicinal do Brasil, e para minha surpresa em total ignorância com a notícia, minha reação foi:
"Mãe, vou trabalhar na feira da maconha! Não sabia que existia uma”
Mas a surpresa maior ainda foi entender porque precisava estar lá e como é vasta a diversidade de usos e questões, que envolvem a cannabis.
A ExpoCannabis reuniu empresas do setor buscando ampliar o debate sobre a planta em diferentes áreas, como: no agronegócio, comportamento, advocacia e saúde. Lá aprendi que a maconha, além do uso recreativo, tem sua importância medicinal e terapêutica. E como várias outras questões sociais no país compõem um recorte racial no mercado.
A partir do momento que se entende a maconha como uma questão de saúde e política pública, fica nítido que a visão popular da cannabis está associada ao fundamentalismo religioso e ao racismo, uma vez que, no passado, a maconha tinha seu uso associado a escravizados.Ou seja, construíram a imagem do consumidor à nocividade. Tudo em nome do que chamamos de guerra às drogas, em que os principais afetados e presos, são jovens pretos. A aplicação mais popular da cannabis medicinal são os componentes extraídos da planta: o CBD (canabidiol) e o THC (tetrahidrocanabinol), conhecidos por sua aplicação terapêutica, pois eles possuem efeitos calmantes no sistema nervoso central. Por isso, contribuem para reduzir a ansiedade, melhorar a qualidade do sono, do bem estar e promover um maior relaxamento. Além disso, por não ter efeito narcótico, pode substituir os ansiolíticos, que são viciantes.
Muitos países, inclusive o Brasil, já autorizam medicamentos à base de cannabis no tratamento de diversas doenças, como: Epilepsia, Transtornos de ansiedade, Doença de Parkinson, Esclerose Múltipla, Dor crônica, Fibromialgia, Artrite, Transtorno bipolar,Doença de Alzheimer, etc… são tantos tratamentos aos quais são indicados, que fiquei pasma do quanto meu conhecimento sobre Cannabis era raso e cheio de preconceitos.
O que torna pontual a fala do deputado estadual Eduardo Suplicy, em recente audiência na Câmara dos Deputados: “A cannabis não é o que sara, mas traz uma qualidade de vida melhor. O acesso à ela é um direito humano”
Havia marcas na ExpoCannabis como a Life Green, com a linha: Life Pets, que desenvolve produtos a base de cannabis para animais; empresas do setor jurídico que auxiliam na questão da liberação e conscientização do HC (habeas corpus) - a ação judicial necessária para garantia daqueles que precisam cultivar a cannabis em decorrência do alto custo de sua importação ou prescrição médica. Afinal, a platanção continua ilegal aqui.
Na feira também havia marcas representando a construção civil, como Hemp Power, que promove materiais sustentáveis como o concreto de cânhamo (hempcrete) para a construção e empresas focadas na redução de danos com foco em usuários, famílias, acolhimento e informatização.
A Hemp Vegan, por exemplo, foi fundada pela Dra Bárbara Arranz, que possui um filho diagnosticado com autismo, decidiu apostar no tratamento dele com óleo de canabidiol, extraído da maconha, para garantir mais qualidade de vida.
O resultado para sua surpresa foi positivo e acabou se tornando a missão de vida dela. Foi assim que a biomédica se especializou e resolveu criar uma marca de produtos com cannabis medicinal. Com o intuito de garantir que mais pessoas desfrutem dos benefícios da planta.
Não, foi surpresa nenhuma quando o stand da Dra Bárbara, ganhou o prêmio de melhor stand da ExpoCannabis, sendo o mais colorido, marcado por sua identidade visual única e espírito de família da equipe Hemp Vegan. Também não é nenhuma surpresa, que foi o amor e coragem de uma mãe que trouxe ao mundo, várias novas alternativas de se viver e quebrar tabus, preconceitos.
“O mais importante de tudo isso é as pessoas, cada vez mais, estarem abertas a novos conhecimentos, entender que a gente tem que evoluir. A cannabis está aí, levando esperança e conhecimento, e está na hora de a gente abrir os braços e enxergar isso”. Relata a doutora em entrevista ao G1.
Eu fui para trabalhar na Expo São Paulo, mas não sabia que aprenderia tanto, e que viria maconha, apenas como mais uma planta de uso ancestral, tão necessária quanto a cana de açúcar ou tão forte como a morfina, que muda o mercado e a vida de tantas pessoas, principalmente, as de corpos como o meu: periféricos e pretos.
Escrito por Barbara Paula @barbaraa_paulaUma geminiana apaixonada por poesia, que encontrou voz e caminhos na comunicação.De muitas escolhas, torna-se agora jornalista, poeta e humanista.
Formada em Comunicação Social - Jornalismo, bolsista pelo Prouni na FIAM FAAM FMUCampus Liberdade, natural da periferia do extremo sul da cidade de São Paulo, atua como repórter e modelo. Experiência como revisora, pauteira, redatora e agora social media com criação de conteúdo de marca.
paula.silva.barbara@gmail.com